O Cristão e a Cultura: Os Cristãos em Babel e seus desafios – DMBFinance
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Cosmovisão Bíblica

O Cristão e a Cultura: Os Cristãos em Babel e seus desafios

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Nessa “cultura de Babel” que parece uma inclinação do inferno para a destruição, os cristãos devem aprender a ver que a armadura de Deus nos prepara para lutar contra domínios e potestades, contra forças da escuridão e espíritos maus (Ef 6.12).

Os cristãos não podem se deixar atrair para a estrada da contracriação. Em vez disso, devem seguir o caminho da renovação. Estamos no caminho para a nova Jerusalém, e precisamos ser conduzidos a ele de forma contínua. A remoção de Babel e a luta contra ela colocará o cristão na posição de estrangeiro e portador da cruz.

Esse será o tipo de testemunho encontrado em Apocalipse 11. Ele é uma profecia e ao mesmo tempo uma advertência para o retorno às normas divinas, que ensinam e permitem a verdadeira liberdade e responsabilidade.

Não podemos de boa-fé evitar o mundo. A “cultura de Babel” é uma perversão do Reino de Deus que se alimenta das forças do Reino de Deus. A Bíblia a chama “cultura da escuridão”, e a escuridão não pode extinguir a luz que irrompeu sobre este mundo com a vinda de Cristo (Jo 1.5).

Mediante a vinda do Reino de Deus a cultura de Babel será julgada

A perspectiva de renovação, representada pela glorificação de Cristo, é a perspectiva de pensamento e ação responsável.

Se os homens da ciência, tecnologia, economia e política fizerem escolhas responsáveis, normativas, a ciência e a tecnologia não serão mais forças ameaçadoras. Elas contarão com possibilidades fascinantes na pesquisa atual para divulgar os segredos da criação.

Para essa descoberta e revelação não haveria fim. Já o caminho que conduz ao reinado do homem sempre ameaça o fim, pois ameaça a humanidade com seus desdobramentos destrutivos e demoníacos.

Se mais uma vez os homens descobrirem o caminho da normatividade na ciência, tecnologia, economia e política, ou em outras palavras, buscarem o Reino de Deus de forma responsável, seus esforços gerariam muitos problemas.

A maneira certa de seguir os mandamentos de Deus seria arriscada, pelo fato de muitas estruturas culturais atualmente estarem bloqueadas na perspectiva do reino humano. Precisamos aceitar esse obstáculo quando procuramos prosseguir com a nossa perspectiva cristã sobre a cultura.

Teríamos primeiro de reconhecer a situação existente e encontrar maneiras de lidar com ela, pois somos sempre tentados a acomodar-nos com a natureza e poder da cultura de Babel.

Está cada vez mais difícil para o cristão viver na cultura de Babel e ainda assim não fazer parte dela

Escolher a responsabilidade de estar coram Deo [diante de Deus] significa resistir às forças poderosas da ambição humana e de suas vontades.

Responsabilidade também significa rejeitar a revolução. As mudanças revolucionárias são incapazes de fornecer soluções para os estados de ilegalidade existentes, pois elas mesmas não possuem nenhuma lei.

Os cristãos enfrentam a enorme tarefa de começar com a situação existente, decadente e tentar renová-la, utilizando as normas dadas por Deus.

Se os cristãos tivessem mais discernimento sobre o que de fato acontece no mundo, eles seriam menos enganados por motivações mundanas. A compreensão do mundo deve consistir na base de sua apologética, em especial quando eles tentam usar ações de princípios em atividades culturais.

Nossa cultura hoje tende para o niilismo, e parece que os cristãos são muito propensos a escolher a tecnocracia ou a revolução. Muitas vezes vemos jovens cristãos tomando partido, e depois trocando-o pelo oposto. Há sempre argumentos convincentes em ambos os lados.

O ponto de vista vencedor é então modificado e acomodado antes de se tornar uma atitude cristã. Por meio dessa oscilação e compromisso, o pensamento político cristão e suas ações nos países da Europa Ocidental têm praticamente tudo, mas perderam a dinâmica central.

Por que isso aconteceu?

Porque os cristãos não conseguiram reconhecer o conflito espiritual inerente aos motivos culturais que determinam o desenvolvimento contemporâneo.

No passado, as armas da apologética defendiam a fé cristã contra a força espiritual do paganismo. Defesa semelhante deve ser configurada agora contra o neopaganismo, a força espiritual moderna e a marca registrada da cultura secular.

Essa apologética deveria enfrentar com ardor filosofias, ideologias e sistemas de pensamento que, como falsas revelações, desejavam muito fazer o poder religioso apostatar.

A apologética cristã deve propor a visão unitária do homem biblicamente responsável, normativa, cultural e histórica.

Ela ajudará os cristãos a testar os espíritos e permitir à igreja lembrar a seus membros o privilégio de ter o Reino e o modo de vida acessível a ele, a despeito de toda a angústia e problemas que surgirem na cultura conducente à morte.

Desenvolvimento da consciência ética

Temos lidado com os problemas da vida cultural científica e tecnológica, salientando que esses problemas são sinais da ambição obstinada do homem para formar a cultura.

Escapar da estrada que leva à morte só é possível se as pessoas escolherem um caminho diferente. E afirmamos que a missão profética da igreja é apontar o melhor caminho.

No entanto, devido às limitações legítimas da igreja, não podemos resolver a crise tecnológica. Para essa tarefa, há cristãos vocacionados, em sentido individual ou grupal.

A tarefa da igreja é advertir contra motivos errados. O caminho certo pode ser percorrido apenas se nos permitimos ser guiados pela sabedoria bíblica, que embora antiga, permanece sempre nova e relevante.

Na dinâmica bíblica, o homem não é o centro da realidade, ele não é uma criatura totalmente obstinada e ambiciosa. A Escritura mostra a criação do homem à imagem de Deus e, portanto, enfatiza sua responsabilidade. Como criatura responsável, o homem deve amar a Deus acima de tudo e o próximo como a si mesmo.

Os resultados políticos e práticos desse amor implicariam em o homem desistir do desejo de poder e procurar promover a justiça e a retidão. Para a economia, o amor significa que as motivações dele não são mais impulsionadas só pelo lucro, mas pelo exercício da administração responsável.

Para a ciência, o amor significa que o conhecimento não é mais a força bruta, mas serve ao interesse da sabedoria. É preciso considerar a ciência e a tecnologia servas úteis da humanidade, em vez de mestras tirânicas.

Não precisamos negar o grande significado da ciência ou da tecnologia

No entanto, devemos resistir à crença na independência do homem obstinado que se tornou parte dela. Por meio da fé apostatada do homem, o desenvolvimento da ciência e tecnologia tende a determinar o curso de nossa cultura.

Na verdade, sua função deve ser limitada a um meio que leva à elaboração da cultura. A ciência e a tecnologia precisam ser submetidas a pensamentos e ações responsáveis.

Podemos entender melhor o serviço que a ciência e a tecnologia prestaram à cultura quando voltamos aos motivos originais. A Bíblia nos ensina que o homem recebeu permissão para usar a criação como base, mas apenas com o intuito de preservá-la.

Manter apenas a criação, sem desenvolver a cultura deixa o homem caído refém das forças naturais. Já construir sem cogitar a preservação significa ser arrogante.

Ignorar a preservação criteriosa e discreta acabará se transformando em uma situação em que os perigos naturais são substituídos por perigos culturais; as forças tecnológicas prejudiciais ameaçarão provocar a ruína total.

No contexto de sua vocação harmoniosa para construir e preservar, o homem se vê como imagem divina. Edificar e conservar confirmam seu amor em relação ao Criador e Redentor. Assim, ele trata a criação com a preocupação e respeito merecidos.

A humanidade responsável reconhece a necessidade de desenvolver a criação e resistir a todas as formas de distorção e desordem. Caso o homem permita ser habilitado pelas normas bíblicas, seu esforço cultural pode ser uma bênção mesmo para o reino da natureza.

Isso ocorreu nos dias do rei Salomão (1Rs 4.33,34)

Como agora também pode ser, se permitirmos que nossa economia, política, ciência e tecnologia se tornem ações harmoniosas para construir e preservar, ou dito de outra maneira: se eles se tornarem parte da busca pelo Reino de Deus.

Sem dúvida, não é fácil alcançar a interação harmoniosa entre construção e preservação. Muitas pessoas vão resistir com força ao sentido bíblico. Mesmo depois da rejeição dos ídolos da ciência e da tecnologia, muitas pessoas se voltam para outros ídolos, como o da liberdade revolucionária ou da natureza.

Outros tentam projetar uma estratégia modificada para a ciência e tecnologia, mas continuam com uma visão fechada do mundo e da vida que ainda exclui a Deus.

Todavia, Deus não se permite ser excluído, e assim faz com que os desenvolvimentos culturais desse mundo fechado deem errado. Nós reconhecemos seu juízo aqui, e ainda, ao mesmo tempo, ouvimos seu chamado para voltarmos para ele e seguirmos suas normas — isso nos dá esperança.

O horizonte dela é o horizonte do Reino de Deus, que será o cumprimento da reconciliação e renovação de toda a criação. Com essa perspectiva, não precisamos nos considerar peregrinos ou espectadores em todo o mundo.

Mas sim cidadãos do Reino que veio uma vez com Cristo e virá novamente. Nós pertencemos a este mundo, mesmo estando exilados na cultura de Babel.

Exilados sim — embora não sejamos construtores da cultura hostil —, também não somos seus escravos

Nossa relação com a cultura é uma das tensões. A exigência do Deus de amor que rejeita essa cultura também demanda que a solucionemos, baseando-nos no amor.

Assim, o cristão não pode evitar seu ambiente cultural, mas também não pode esperar para ver muitos frutos do seu mandato em uma cultura tão hostil. O conceito bíblico de viver e atuar no amor e na graça de Deus é diametralmente oposto ao conceito cultural de Babel.

A Bíblia rejeita de modo absoluto a pretensão humana que, com o uso da ciência e tecnologia, pode elaborar uma contracriação, à qual ele mesmo atribua significado.

A Escritura nos chama a viver e trabalhar reconhecendo a ordem da criação, e confessando que só Cristo pode dar sentido e expectativa de renovação. Em Cristo, o Reino de Deus já foi dado a nós, e no seu regresso, nos será dado nas dimensões recriadas.

Essa é a verdadeira visão da história. Essa perspectiva não pode ser alterada pelas pretensões da norma cultural de Babel. A perspectiva bíblica parece nos dar recursos com os quais combatemos a redução do significado da cultura na ciência e tecnologia, pois endereça nossa atenção para o rico e inesgotável significado.

A cultura de Babel reduz a ciência à caricatura da verdade

Como exilados, podemos testemunhar seu significado autêntico e pleno, concentrando-nos no significado originário e normativo.

Essas preocupações globais sobre a temperatura, o armamento nuclear, a biotecnologia, os problemas da informática e energia, como também problemas pessoais, como o aborto, crime, a dissolução do matrimônio e da família e a crescente decadência da nossa sociedade, problemas com raízes pessoais que assumiram proporções enormes.

Vivendo no meio de todas essas oscilações e perversões, os cristãos precisam portar-se de forma responsável, o que significa servir e ao mesmo tempo testemunhar os valores que a sociedade deve honrar. Por isso, os esforços pessoais não devem ser esquecidos, pois a reforma cultural deve começar nessas áreas.

Muitas vezes pensamos em dimensões globais e analisamos nossa cultura como parte da cultura global, mas devemos começar pelos pequenos esforços culturais.

A ciência e a tecnologia podem nos ajudar em nossos empenhos, mas devemos sempre ter em mente que elas são forças potencialmente subversivas, que mais uma vez podem nos aprisionar se não forem usadas com correção.

Será útil dizer algumas coisas sobre política, onde as pessoas costumam procurar soluções

Os cristãos devem, em primeiro lugar, buscar um caminho diferente, começando com questionamentos como pano de fundo espiritual e histórico.

Tendo o pano de fundo religioso do problema, eles deverão articular um posicionamento ético antes de poder olhar para a política como responsável pela solução — uma abordagem superficial iniciada e terminada na política, cuja eficácia será apenas aparente.

Poderia mencionar, nesse contexto, as atuais discussões políticas relacionadas com armas nucleares, no âmbito global, e, como exemplo, as questões mais pessoais, as discussões sobre a legalização do aborto.

Suspeito que muitos cristãos considerem minha abordagem impraticável. No entanto, afirmo que aceitar a responsabilidade e normatividade permite grande variação de possibilidades e benefícios, e também um curso estável.

O curso atual da cultura de Babel pode parecer um caminho para a liberdade, mas o homem acabará encontrando-se prisioneiro da própria desorientação, em um curso que oferece nenhum futuro, apenas medo.

Quem se mantiver em contato apenas com o desenvolvimento real, corre o risco de sempre se acomodar a essa evolução. Já os que se orientam pela perspectiva do Reino de Deus, dada ao homem na graça, faz mais que se manter com os fatos.

Eles resistirão ao espírito de desenvolvimento ateu, e também vão aceitar as próprias responsabilidades para prosseguir na abordagem biblicamente normativa. A Bíblia nos dá os exemplos de José, no Egito, e Daniel, na Babilônia, e os exemplos das duas testemunhas em Apocalipse 11 também são encorajadores e esperançosos.

Considerações Finais

No final destes capítulos, concluo que devemos antes de tudo, aprender a ver o Reino de Deus como a meta final da história e dos nossos esforços culturais. Devemos sempre lembrar que o Reino de Deus é um presente outorgado, também concedido verdadeiramente agora, e, por fim, será conferido a nós mais uma vez no futuro.

A renovação final nos mostrará o verdadeiro significado dos nossos esforços culturais. Então, mesmo a Babilônia se tornará Jerusalém. Esse mistério divino, que nos foi revelado ao longo da história, não pode ser de todo compreendido; no entanto, trata-se de uma dinâmica que concede vida e merece nosso respeito, devoção, gratidão e senso de responsabilidade.

A visão normativa da vida na cultura que rejeita as expectativas culturais frenéticas e sua revogação imediata é descrita de forma mais precisa pelo profeta Jeremias na carta aos exilados na Babilônia. As palavras são serenas, mas repletas de expectativas:

Assim diz o Senhor dos Exércitos, o Deus de Israel, a todos os exilados que eu deportei de Jerusalém para a Babilônia: Edificai casas e habitai nelas; plantai pomares e comei o seu fruto.

Tomai esposas e gerai filhos e filhas, tomai esposas para vossos filhos e dai vossas filhas a maridos, para que tenham filhos e filhas; multiplicai-vos aí e não vos diminuais. Procurai a paz da cidade para onde vos desterrei e orai por ela ao sua paz vós tereis paz. (29.4-7)

E: Eu é que sei que pensamentos tenho a vosso respeito, diz o Senhor; pensamentos de paz e não de mal, para vos dar o fim que desejais. (29.11)

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Cosmovisão Bíblica

Cosmovisão cristã Universo ao lado – Niilismo

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Quando pensamos em cosmovisão cristã, é necessário primeiro definirmos o que essa palavra significa, a ideia de cosmovisão surgiu pela primeira vez no idealismo alemão, que desde o princípio traz em seu bojo a natureza cristã. Em alemão cosmovisão é Weltanschauung, que significa maneira de ver ou perceber o mundo, ou seja, a maneira como o ser humano enxerga e vê o mundo ao seu redor.

Albert Wolters define cosmovisão como “a estrutura compreensiva de crenças básicas de uma pessoa sobre as coisas”… cosmovisão é uma questão de experiência diária da humanidade. Um componente inescapável de todo o saber humano e, como tal, é não-cientifica, ou melhor (visto que o saber científico é sempre dependente do saber intuitivo por natureza).

Ela pertence a uma ordem de cognição mais básica do que ciência e a teoria”. Veja agora uma das principais cosmovisões que batalha contra e tenta minar a cosmovisão Cristã e molda o pensamento humano – O Niilismo.

O Niilismo diz que:

“Uma vez que nos convencermos de que nós humanos somos os criadores de nossos próprios valores, perceberemos, que somos livres para escolher quaisquer valores que nos interesse ter.

E esses são certamente os valores que nos fizeram sair do reino animal e criaram a civilização: a eliminação dos inferiores pelos superiores em cada aspecto da vida.

O imaginativo, o ousado, o criativo, o destemido, o corajoso, o curioso e o bravo, os líderes naturais de todos os tipos, deveriam ficar livres, desatados das moralidades de escravos – livres para viver plenamente e para se realizar”. Friedrich Nietzsche.

[…] A aceitação desses valores trará um duplo benefício. Primeiro, o potencial criativo da raça humana terá rédea solta, de modo que em cada área da vida as mais elevadas metas atingíveis serão atingidas, e a civilização se desenvolverá no ritmo mais rápido possível – algo que obviamente é do interesse da humanidade como um todo.

Segundo, os indivíduos mais talentosos poderão viver vidas plenas, assim experimentar a felicidade pessoal em vez da frustração – felicidade que é entendida por Nietzsche sobretudo como auto realização, e não simplesmente como o gozo de prazeres transitórios.

O niilismo como cosmovisão, conduz seus adeptos por três caminhos:

1. Morte – pelo suicídio; 2. A Insanidade – pela loucura; 3. E aos braços de Deus – pela redenção e perdão em Jesus Cristo. O Cristianismo é avesso da cosmovisão Niilista: Fomos feitos e criados por Deus Ef 2.10; Para glorificarmos somente a Ele – 1Co 10.31; Para vivermos em fidelidade e obediência a Ele – Ec 12.13.

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Cosmovisão Bíblica

A redução da cultura pelo homem em um modelo cientifico e tecnológico

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Por causa da influência predominante da ciência sobre a cultura, e pela marca impressa pela tecnologia moderna, ela se baseia, cada vez mais, no modelo científico e tecnológico. Uma vez que tenhamos definido o modelo científico e tecnológico, teremos melhor compreensão do nosso contexto cultural. Nó o faremos em seis pontos.

A ciência tem se tornado mais independente, autônoma e autossuficiente. As pessoas são convidadas a aceitar a ciência como verdade única e, portanto, a aceitar com confiança religiosa as conclusões por ela delineadas.

A ciência também está sendo evocada como principal instrumento de controle humano sobre o mundo. Os homens aumentam seu poder sobre a realidade mediante a exploração dos meios científicos, em particular no desenvolvimento da tecnologia industrial.

Muitos acreditam que a tecnologia moderna não é nada mais que ciência aplicada, assim a cultura, de acordo com um modelo científico, torna-se cultura de acordo com o modelo tecnológico. Dito de outro modo, o controle racional e científico da natureza e da sociedade humana conduz ao controle tecnológico da realidade.

A concentração no controle provém do anseio religioso do homem de realização e libertação pessoal

O anseio universal pela liberdade está relacionado de forma direta ao potencial da ciência e tecnologia. Elas assumem um papel messiânico. O homem espera ser libertado da miséria e sofrimento e encontrar a felicidade material por seu intermédio.

Até a Revolução Industrial, a ideia de progresso motivou só os homens da ciência. Mas, tão logo a prosperidade material da Revolução Industrial tornou-se disponível para as massas, elas aceitaram o progresso como artigo de fé.

Filosofias como o positivismo, o marxismo e o pragmatismo contribuíram para a crença na tecnologia moderna como força libertadora.

As forças econômicas e políticas fazem muito para a construção do modelo científico e tecnológico. Só por essas forças poderia haver lugar para o desenvolvimento em grande escala. Por esta razão, as forças ocultas da economia e política devem ser criticadas, o que os neomarxistas estão felizes em fazer.

No entanto, a crítica neomarxista não penetra na raiz da questão; pode levar à mudança de jogadores, mas os novos jogadores continuarão apenas a construir o modelo científico e tecnológico.

Uma vez que a dinâmica religiosa do mundo é apóstata, a cultura se tornará cada vez mais secular. A divinização da ciência e da tecnologia anda de mãos dadas com a resistência à fé cristã. A realidade transcendente tornou-se um mito, uma projeção.

Acredita- se que o próprio homem tecnológico e racional alcançará um dia a utopia por ele mesmo concebida de controle e sujeição. Neste mundo científico-tecnológico, o homem será senhor e mestre, independente e soberano.

Não haverá resquício de Deus no mundo. Todos os problemas serão resolvidos por meio da democracia, que pode canalizar a ciência e tecnologia de forma redentora.

Problemas e perigos

A realidade perdeu o significado de acordo com esse modo de pensar. A realidade não é mais a criação, ricamente diferenciada, a entidade viva e sustentada pela Palavra de Deus.

Em vez disso, o homem “cria” um mundo impulsionado pela dinâmica tecnológica e, em seguida, tenta aceitá-lo como o mundo real, embora seja desprovido de sentido. O homem moderno iguala o mundo tecnológico à realidade total. Claro que a realidade criada não permite essa redução.

Todos os aspectos da realidade criada são coerentes em uma unidade significativa. Todavia, se o homem nega a coerência centrada em Deus, o desenvolvimento da realidade humana provoca sua própria destruição. Ela pode vir com lentidão e de forma cumulativa, mas virá.

É impossível a instituição de um mundo tecnológico independente

O crescimento do desenvolvimento tecnológico é limitado ao potencial da realidade criada. As fontes de energia e os depósitos de minerais são limitados. Os problemas ambientais, como a poluição de mares e oceanos e a contaminação do solo, da água e do ar mostram como a tecnologia atual explora o meio ambiente com perigo.

A tecnologia também revela graves tensões internas em torno de questões como a energia nuclear e a biotecnologia. A crescente dependência da computação causou desemprego, deslocamento social, solidão e alienação.

As funções específicas e únicas de cada pessoa, a responsabilidade individual e criativa do homem — no contexto do mundo de experiência global — está sendo eliminado de maneira sistemática do modelo tecnológico da realidade.

A cultura definida como unidade científica e tecnológica se dilacera a partir de si mesma. Externamente reflete uma abstração gelada, uniforme, impessoal e homogênea.

Criar um mundo científico e tecnológico independente e deixá-lo dominar e destruir a globalidade da experiência traz sobre nós os problemas e perigos que mencionei. Os problemas mostram que a realidade é apenas uma, criada e mantida por Deus.

Os problemas também apontam que o conhecimento científico é sempre impelido e permeado pelo conhecimento pré-teórico ou suprateórico.

A singularidade da visão cristã consiste no fato de o conhecimento pré-teórico ou suprateórico se basear na fé, fundamentada na revelação divina. Isso permite que os cristãos sejam críticos e apreciadores da ciência e tecnologia.

Observadas do ponto de vista cristão, a ciência e a tecnologia só serão significativas caso permaneçam em áreas limitadas da totalidade da experiência humana, e não se tornem modelos pelos quais todos os outros aspectos da vida são organizados — para seu próprio dano.

“O mundo da experiência” e “o mundo científico e tecnológico”

O que queremos dizer com “nosso mundo da experiência”? Este mundo é o mundo em que vivemos. Ter esperança, sofrer e lutar representa o mundo em que vemos as coisas de forma simples, em que sentimos amor; é também fé e confiança;, na verdade, a fé e a confiança são os pontos essenciais do mundo.

Este mundo da experiência original e primária não pode ser compreendido de modo pleno, ele é complexo, concreto, cheio, muito variado e inescrutável. Todas as atividades humanas e seu significado — a ciência, a tecnologia e o seu significado — pertencem a este mundo.

Nosso conhecimento do mundo primário e original procede da experiência de ser intrinsecamente relacionado e envolvido com ele. É um conhecimento intuitivo que precede e transcende todo o conhecimento científico.

O segundo “mundo” é o mundo da filosofia, da ciência e de sua aplicação. Também é o mundo do controle científico e tecnológico.

Para construir um modelo científico e tecnológico para toda a realidade, como muitas pessoas fazem, deve-se subordinar o primeiro mundo, o mundo do conhecimento primário e intuitivo, ao segundo.

Então, o mundo científico e tecnológico começa a dominar o mundo cotidiano da experiência.

Os tecnocratas mantêm a ilusão de que a ciência fornece o único conhecimento da realidade verdadeiro, completo e concreto — uma crença que surgiu no Iluminismo.

No entanto, quando o mundo reduzido de forma drástica e abstraído da ciência se tornou o mundo primário, o genuíno mundo primário da experiência total é reduzido a uma abstração científica.

Essa redução acabará mais tarde em caos. As tendências dos modelos científicos e tecnológicos da realidade podem ser vistas no crescimento urbano moderno, na política industrial, habitação, nos cuidados com a saúde, na assistência social, economia, política e defesa.

Felizmente, pelo fato de o mundo real da experiência se recusar a desaparecer, a tecnologia jamais será completamente bem-sucedida.

No entanto, como o poder está concentrado na sociedade tecnocrática, tomamos conhecimento do desaparecimento do amor, que não pode florescer nas estruturas frias e uniformes dessa sociedade. Afinal, o amor orienta-se de modo principal para o que é específico e único.

O grau de bem-estar social previsto no estado tecnológico não pode alterar a queixa de que “ninguém se importa comigo”. Na cultura tecnocrática, os laços essenciais do relacionamento humano são cortados e substituídos por laços artificiais que prejudicam o amor, destroem a compaixão e a empatia, e aumentam a alienação e solidão.

As pessoas que sofrem a agonia do mundo tão frio e impessoal tornam públicos uma série de protestos e reinvindicações.

O que está por trás da motivação do homem ao desenvolver a ciência e tecnologia?

Parece que o motivo consiste no anseio humano de controlar toda a realidade mediante seus pensamentos e ações.

O desejo do homem é controlar a origem, a existência e o destino de todas as coisas, sujeitando-as a si mesmo. O homem continua tentando romper a realidade nos menores elementos básicos, a fim de reconstruí-la de acordo com sua estrutura de poder.

Esse motivo fundamental já era evidente na Queda, mas só depois da Renascença, no período de forte influência do humanismo moderno, essa tendência foi reforçada pela energia das ciências naturais e tecnologias modernas.

Os protagonistas da Renascença deram adeus ao cristianismo. Eles continuaram a usar a terminologia cristã, mas sob a perspectiva antropocêntrica. A criação deixou de ser considerada obra de Deus, e sim o trabalho das próprias mãos humanas.

A Queda, de acordo com os humanistas, não significou a negação de Deus, mas a negação de si mesmo. A redenção não consiste na restauração da comunhão com Deus por meio de Jesus Cristo, mas a afirmação de que o homem pode aprender a se postar em pé sozinho.

Crer não significa confiar em Deus, em Cristo, mas sim acreditar em si mesmo. Por último, o futuro não consiste no que Deus quer colocar no caminho do homem, mas a organização do mundo de acordo com as ideias humanas.

O espírito da Renascença tem permeado o pensamento da maioria dos filósofos e cientistas modernos — incluindo-se o Iluminismo, a filosofia moderna, o positivismo, marxismo e o materialismo.

O espírito da Renascença, com a autossuficiência e autorrealização do homem, domina a evolução da economia, política, ciência e tecnologia.

O homem adotou a si mesmo como o padrão de todas as coisas, na maioria dos setores da cultura, e a ciência é seu instrumento de controle da realidade.

O racionalismo científico impulsiona a tecnologia a proporções enormes

Ao mesmo tempo retarda-se o desenvolvimento cultural — um fato triste que poucas pessoas notam. A maioria, motivada pelo materialismo, considera as questões não tecnológicas sem importância.

Outros motivos surgiram da mesma raiz da autonomia pretendida pelo homem e da autossuficiência para reforçar o racionalismo. Mais importante ainda, existe o motivo da “tecnologia pela tecnologia”. Tudo o que pode ser feito, deve ser feito, e quanto maior, melhor.

E assim, o desenvolvimento técnico gira além do controle humano. O homem pode fingir ser dono e senhor da tecnologia, mas ele se torna, de fato, seu escravo. As pessoas são aprisionadas pelo próprio trabalho quando se recusam a pensar nas normas apropriadas para a tecnologia.

Os problemas do meio ambiente, e os perigos associados à energia nuclear, informática e biotecnologia nos avisam de que a tecnologia está se tornando um poder absoluto que ameaça a natureza e a cultura. Seu crescimento parece estar fora de controle.

O segundo princípio que desempenha grande papel no desenvolvimento técnico afirma que a tecnologia deve servir ao poder econômico. O desenvolvimento tecnológico submete-se por completo ao lucro. Prestamos pouca atenção a outras normas.

Um dos resultados dolorosos é a poluição ambiental generalizada. As aberrações provocadas pela sociedade dominada por motivos econômicos comporta sérios problemas. A bênção potencial da tecnologia se transformou em maldição.

A tecnologia, amiga em potencial do homem, tornou-se sua inimiga.

Não podemos culpar apenas filósofos, cientistas, engenheiros e economistas. Muitas pessoas associadas indiretamente à tecnologia também são dominadas pelo espírito materialista, tanto que atribuem à tecnologia um poder messiânico.

Cegado pela insaciável ânsia de prosperidade material, o homem moderno idolatra o desenvolvimento tecnológico como meio de obter cada vez mais bens de consumo e bênçãos materiais — “seu tipo de felicidade”.

Assim, dentro e fora do processo do desenvolvimento científico e tecnológico, descobrimos que os problemas e perigos atuais são provocados por pessoas que se desenvolvem e constroem sem normas. A normatividade da produção resulta de sua pretensão — eles, e não Deus, determinam o desenvolvimento da ciência e da tecnologia.

Como foi descrito antes, o homem moderno tem sido enganado e aprisionado pelas ofertas de poder da ciência. Esta, com sua abstração e redução, oferece o conhecimento de apenas parte da realidade, não da totalidade.

A aplicação ilimitada de ciência corresponde a uma redução da realidade. Coisas tremendas podem ser alcançadas, mas a redução pode muito bem levar à aniquilação posterior da realidade.

Se, a fim de resolver os problemas existentes, os tecnocratas se voltarem para mais um campo da ciência, os problemas podem ser temporariamente suspensos.

Entretanto, eles reaparecerão de forma ameaçadora mais tarde. Se toda a tecnologia por fim resultar na criação de uma ditadura mundial tecnocrática, então não haverá mais espaço para a liberdade e responsabilidade humanas. O homem se tornará então prisioneiro em um campo de concentração universal.

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Ideologias, Idolatria e a Verdade do Evangelho

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A verdade, tanto no sentido absoluto quanto no relativo, certamente interessa aos cristãos. A verdade é um atributo de Deus, e Jesus afirma que ele próprio é o caminho, a verdade e a vida (Jo 14.16). Ele também diz: “conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará” (Jo 8.32).

Se Marx, Mannheim, Arendt, Crick e Havel estão corretos ao afirmar que as ideologias representam concepções fundamentalmente equivocadas do mundo, nós, cristãos, temos a obrigação de levá-los a sério e discernir de que maneira eles estão certos, e de que forma estão errados.

Ideologias – Idolatria e a Verdade do Evangelho

Como sugerido até agora, acredito que a ideologia pode ser melhor entendida com referência a seu caráter religioso básico. O uso da palavra pode parecer provocativo no discurso contemporâneo, pois implica que uma religião está fazendo reivindicações da verdade reservadas a outras crenças.

Embora muitos considerem ofensivas essas reivindicações, principalmente nesta era pós-moderna, o fato é que a religião, por sua própria natureza, faz tais reivindicações.

Qualquer tentativa de relativizar a religião corre o risco de torná-la menor do que ela afirma ser e, portanto, a banaliza. Consequentemente, a idolatria ainda deve ser considerada como uma categoria operativa.19

Além disso, conforme observado por Paul Marshall, idolatria não é apenas mais um pecado, do qual orgulho, inveja, luxúria e outros são exemplos; na verdade “todo pecado é uma expressão do pecado básico da idolatria, de colocar alguma outra coisa no lugar de Deus”.

20 A idolatria, em outras palavras, é a origem de todos os outros pecados, conforme indicado por sua proscrição ser classificada como o primeiro preceito do decálogo (Êx 20.3; Dt 5.7).

A idolatria toma algo pertencente à criação, tenta elevá-lo acima do limite que separa Criador e criatura, e faz dele um tipo de deus. Por conta da abrangência da religião, a idolatria busca colocar todo o resto da criação a serviço desse deus inventado.

A Idolatria Mais Vista Nas Escrituras

O tipo de idolatria que melhor conhecemos nas Escrituras tem pessoas formando uma divindade pessoal inventada (em madeira ou pedra), erigindo templos, criando ritos litúrgicos e oferecendo sacrifícios.

Incansavelmente, os profetas do Antigo Testamento denunciaram a adoração de falsos deuses, uma situação constante em Israel e Judá.

Mas a idolatria também se manifesta de maneiras mais sutis. Os seres humanos são inevitavelmente criaturas que adoram, embora nem todos admitam isso de si mesmos.

Um ateu nega a crença em Deus, mas pode de fato adorar a racionalidade, a habilidade artística ou o poder militar. Mesmo crentes nominais em Deus podem servir a ídolos como o sucesso financeiro, o prestígio social ou o poder político.

Pelo fato de a idolatria, nesse segundo sentido, ser tão indireta e menos abertamente experimentada como tal, em geral não a reconhecemos pelo que ela é.

Contudo, é nesse tipo de idolatria que a ideologia está enraizada

A conexão entre idolatria e ideologia é feita de modo contundente por Bob Goudzwaard, que argumenta que a natureza religiosa dos seres humanos pode ser compreendida levando-se em conta “três regras bíblicas básicas”.

Primeiro, todos servem a um deus de algum tipo. Segundo todos são transformados na imagem do deus a quem servem. Terceiro, as pessoas estruturam sua sociedade à sua própria imagem.

Agostinho afirma isso estabelecendo dois princípios básicos: nosso coração não descansa até que repouse em Deus; e uma comunidade é unida por objetos de amor compartilhados.

Se os membros da comunidade amam a Deus e buscam fazer sua vontade, então as estruturas que ordenam a vida comum refletirão isso.

Considerações Finais Sobre a Verdade do Evangelho

Se, por outro lado, seus membros amam coisas como riqueza material, direitos individuais e um Estado todo- poderoso, então esse amor compartilhado se dará de forma que afete o bem-estar da comunidade.

Se o coração da comunidade buscar descanso nas coisas que não podem trazer descanso, essa inquietação contínua se manifestará nas instituições políticas e sociais.

Em resumo, a adoração aos ídolos traz consequências práticas para a vida compartilhada de pessoas em uma comunidade.

Temos que tomar cuidado para não sermos enganados pelosos ídolos da nossa cultura, como cristãos temos que adorar somente nosso rei Jesus.

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