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Reconstruindo o Coração (O corpo inteiro o Evangelho inteiro)
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“Também disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; tenha ele domínio sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre os animais domésticos, sobre toda a terra e sobre todos os répteis que rastejam pela terra. Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou. E Deus os abençoou e lhes disse: Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra e sujeitai-a; dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus e sobre todo animal que rasteja pela terra”.
Gênesis 1.26-28
É raro hoje em dia encontrar homens e mulheres tão fervorosos como Davi quando, cheio de confiança, lutava contra a besta chamada Golias, ou tão indignos como Davi estava quando se pôs diante da arca da aliança.
De raro em raro, encontramos pessoas inteiramente despojadas como Jeremias quando pregava contra a teimosia de Israel. E podemos também pensar no momento em que Jesus expulsou os vendilhões do templo. A razão por que a paixão e o zelo parecem ter desvanecido no mundo evangélico de hoje é que nossa teologia do coração e da emoção está inteiramente despedaçada.
O racionalismo pós-iluminista foi reembalado e está lançando raízes na Igreja (por exemplo, a ideia de que a mente é o componente central e supremo da vida cristã, o ambiente de “somente o catecismo responde”, etc.). Temos um avivamento do paganismo e o culto da fertilidade que o acompanha infiltrando-se na Igreja e espalhando morte e destruição (por exemplo, sexo é deus, homossexualidade, aborto, etc.).
Temos os pressupostos deficientes da filosofia grega reaparecendo na teologia, na erudição e na prática cristãs. Temos o existencialismo permeando a mente do povo de Deus (por exemplo, o homem, a razão e sua liberdade/ autonomia são o mais importante, em detrimento de Deus e sua glória, etc.).
Em suma: como carecemos de um fundamento bíblico em matérias como psicologia, filosofia e teologia, a cultura a nosso redor está se deteriorando rapidamente, e ninguém mais parece saber o que fazer.
A resposta a qualquer cosmovisão que contradiga a Bíblia é… a Bíblia. A palavra de Deus e a autoridade que ela traz a toda filosofia ou psicologia é o antídoto a todo pensamento não cristão. Como nos ensinou Cornelius Van Til, todo pensamento não cristão é inerentemente dialético, não pode resolver ou sintetizar conceitos aparentemente contraditórios como individual e coletivo, universal e particular ou fé e razão.
Somente quando começamos com a trindade ontológica podemos elucidar as incertezas.
O modo de combater o paganismo, o naturalismo e os cultos é pregar o evangelho do Reino do Deus Triúno e todos os seus pressupostos, autoridade, lógica e verdade.
E, coincidentemente, é também o modo como combatemos as inconsistências de nossa mente e de nossas emoções.
Uma vez que este estudo é sobre a psicologia do homem e o papel das emoções em nosso ser, não vamos necessariamente aprofundar-nos nas outras cosmovisões não cristãs.
Vamos tocá-las em algum grau a fim de aferir a gravidade com que elas nos afetam, mas este não deve ser considerado um tratado completo sobre essas coisas.
Tendo dito tudo isso, a pergunta diante de nós é a seguinte:
- O que é o homem?
- E não apenas o que, mas quem: Quem é o homem?
- Quem é o homem na relação com o mundo?
- Quem é o homem na relação consigo mesmo – suas emoções, pensamentos e comportamento?
- Melhor ainda, quem e o que é o homem em seu relacionamento com Deus?
O fundamento do Cristianismo.
O fundamento do cristianismo e sua expressão no mundo por meio do homem é o coração – o centro do homem, o homem interior, de onde procedem as fontes da vida (Pv 4.23).
O coração é o que faz de você. Aqui em Provérbio 4.23, a palavra hebraica é lev, e seu significado principal tem a ver com o locus do ser inteiro de uma pessoa, seus desejos, emoções, volição e pensamento.
No mundo ocidental, tendemos a pensar no coração como o ramo emocional da alma, e o cérebro como a seção pensante. Entretanto, no mundo hebraico, o “coração” é a fonte da qual tudo flui.
É o coração que engloba tudo que diz respeito ao homem. O coração é a grande estação central do que significa existir.
Criados a Imagem de Deus.
Ora, quando Deus criou o homem à sua imagem, ele o fez com uma estrutura e um conjunto de características particularmente singulares.
O homem é uma criatura e é o resultado da ação soberana de Deus. Não há autorrealização ou existência autodirigida; não há processo evolucionário.
Visto que o homem foi trazido por Deus à existência no tempo e no espaço, foi-lhe imputado um significado.
E isso porque o homem foi criado à imagem de Deus; o significado é conferido, não inventado. Não há um passado hipotético ou conceitual pelo qual o homem possa apelar a alguma pré – existência vaga, nebulosa.
O outro privilégio de ser criado à imagem de Deus é que o homem foi criado em pé. Ele foi feito justo, santo e bom. O homem não foi um acidente nem foi autocriado numa condição de neutralidade. O homem esteve e está em aliança com Deus, e isso quer dizer que foi criado maduro. Ser maduro e estar em aliança com Deus quer dizer que o homem é considerado responsável por suas ações.
Não pode culpar seu ambiente ou circunstância por nada, apenas a si mesmo. É uma pessoa responsável e sujeita às cortes celestiais. Dado que todos os homens e mulheres foram feitos igualmente à imagem de Deus, também podemos dizer que a existência é ótima.
O que é normal e saudável são coisas como justiça e paz, santidade e sabedoria. Deus é bom, nossa existência é inteiramente derivada de sua bondade, o que quer dizer que o padrão normal para esta existência é propósito, domínio e saúde física e emocional.
Não é (como gosta de postular o existencialismo sartriano) que a existência preceda a essência; antes, a imputação governa e precede a essência (portanto, a existência), porque nossa essência está ligada ao ser e à natureza de Deus. Deus é e, como consequência, nós somos.
Conclusão
Ora, a última coisa em que quero focar é como a referência à imagem de Deus tem tudo a ver com o chamado do homem e com a tarefa do domínio.
Não há reconstrução adequada do coração pelo Espírito até que enfrentemos esta realidade: você e eu somos criaturas do Criador, ordenados para exercer domínio, sujeitar a terra por meio da restauração de homens e mulheres e de instituições à obediência adequada ao Rei, fazendo-os assim ajustados ao Reino. É uma renovação do cosmos inteiro.
O domínio é frustrado pelo pecado e, visto que a psicologia humanista não trata de ética e pecado, é inútil pôr o homem de volta no rumo do propósito e do domínio, e assim a pessoa fica emperrada na frustração sem alívio à vista.
Tudo isso porque as versões humanistas da psicologia não reconhecem a autoridade de Deus; rejeitam a distinção Criador/criatura, e assim deixam o homem sem esperança de cura e restauração.
A tarefa de domínio do homem – quando restaurada em Cristo dá ao homem um propósito fora de si mesmo e deste modo remove qualquer precondição para egoísmo e orgulho.
Quando falamos de reconstruir o coração e desenvolver uma teologia das emoções é importante manter essas distinções no lugar.
O mundo ocidental, influenciado pela filosofia grega Platônica e Aristotélica, vê um dualismo, um abismo entre o Homem como Idéia e o Homem como Matéria.
Ao olharmos para as Sagradas Escrituras vemos que Deus nos chama a sermos santos de forma integral (Que sejamos santificados corpo, alma e espírito).
Por J.R. Santos

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Reconstruindo o Coração – Taxa de Bagagem Emocional
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Lembra-te da minha aflição e do meu pranto, do absinto e do veneno. Minha alma, continuamente, os recorda e se abate dentro de mim. Quero trazer à memória o que me pode dar esperança. Esperança de auxílio pela misericórdia de Deus. As misericórdias do Senhor são a causa de não sermos consumidos, porque as suas misericórdias não têm fim; renovam-se cada manhã.
Grande é a tua fidelidade. A minha porção é o Senhor, diz a minha alma; portanto, esperarei nele. Bom é o Senhor para os que esperam por ele, para a alma que o busca. Bom é aguardar a salvação do Senhor, e isso, em silêncio. Lamentações 3.19-26 Foi G. K. Chesterton quem disse certa vez que a tendência do bem sempre é em direção à encarnação.
Com isso, ele queria dizer que o indescritível deve tornar-se descritível, que o inefável deve tornar-se exprimível. Chesterton estava descrevendo as artes e a filosofia, mas quero levar este princípio um passo adiante: A tendência da história sempre é em direção a maior revelação.
A Encarnação de Cristo, o Filho de Deus o verbo se fez carne — é uma característica notável da teologia cristã
Simplesmente não há nada semelhante em nenhuma das demais religiões do mundo. O que acho fascinante nisso é o fato de que esse dado é coerente com a autorrevelação de Deus na história. Deus sempre move a história em direção a maior revelação, maior luminosidade, maior glória
Ele está levando o homem pela estrada chamada Revelação, com paradas de descanso de iluminação e santificação pelo caminho. Obviamente a Palavra se fez carne e habitou entre nós (João 1.14): maior luz leva a maior revelação, que leva a maior clareza do caminho para maior glória. Toda a redenção é um movimento da ira para a graça. É por isso que a chamamos graça; ela pressupõe a ira. Como já observamos, o homem foi criado à imagem de Deus, mas renunciou a esta glória ao procurar outra glória, que ele mesmo queria definir. Esta glória revelou-se equivalente a trocar um banquete cuidadosamente planejado à mesa do Rei por migalhas à mesa dos escravos. Adão e Eva criam-se livres para explorar os desejos egoístas de seu coração.
Em vez de confiar em Deus com suas emoções, desejos, vontade e pensamentos, confiaram na serpente e trouxeram ruína absoluta à raça humana. O que começou com a graça logo se tornou um movimento da história que parte da ira e segue para a graça. No centro de tudo isso está o fato de que parte da ruína do pecado é a cicatriz emocional que aparece na vida.
Temos taxas de bagagem emocional e são caríssimas
Temos depressão e ataques de raiva, luxúria e tristeza, e essas coisas nos oprimem, muitas vezes desgastando-nos a tal ponto que simplesmente não conseguimos agir. Esta bagagem pode subjugar-nos como Jeremias descreveu em Lamentações 3.
- Podemos ser:
- afligidos (v. 1),
- levados a andar em trevas (v. 2),
- envelhecidos na carne e na pele (v. 4).
- Podemos sentir-nos isolados e solitários como em grilhões (v. 7).
- Nossa bagagem emocional pode fazer-nos sentir-nos desamparados, como a presa de um urso ou leão (v. 10).
- Às vezes, é como se todos escarnecessem de nós (v. 14),
- e nos fartamos de amarguras (v. 15).
Você já se sentiu tão mal que o único modo de descrever a sensação é “quebrou os meus dentes com pedras”? Jeremias, sim (v. 16). A Bíblia está repleta de experiência e expressão de emoções e faríamos bem em reconhecê-las.
Como nos ensinou Salomão há tempo para tudo debaixo do sol (Eclesiastes 3.1-8)
Há tempo de lamentar e tempo de regozijar. Há tempo de júbilo e alegria, e há tempo em que enfrentamos completo desânimo. Embora seja verdade que sempre há tempo e lugar para essas emoções, isso não quer dizer que experimentar a emoção seja algo mau em si mesmo.
Mais uma vez, como dissemos, somos pessoas inteiras com corpos inteiros e com um evangelho inteiro para lidar com tudo isso. E isso quer dizer que nossas emoções têm de funcionar em harmonia com nossas demais faculdades a fim de trazer glória a Deus. Para reiterar: não temos de elevar a mente acima das emoções, o cérebro acima do coração.
Fomos feitos à imagem de Deus, o que quer dizer que somos criaturas pensantes, senscientes e agentes. Exaltar uma dessas características igualmente centrais em contraste com as outras é reembalar a filosofia grega e chamá-la de cristã. E, com a máxima ênfase, isso não é cristão.
O grande plano de Satanás era o redirecionamento da adoração, da afeição e da ambição do homem de algo teocêntrico para algo egocêntrico.
Antes de avançar, precisamos de uma definição do que significa emoções.
Em síntese: emoção é simplesmente o modo da alma de compreender ou interpretar uma situação. Quando uma pessoa se preocupa com uma coisa particular, o corpo responde à coisa tanto de modo somático quanto psicossomático. “Somático” refere-se simplesmente à fisiologia do corpo (gr. soma).
Psicossomático normalmente se refere à mente. Em outras palavras, quando vivência algo, você tem sentimentos que levam a emoções, que levam à ação. E isso envolve aspectos materiais e imateriais (metafísicos) de nosso corpo. Os sentimentos tendem a ser nossa percepção de algo, muitas vezes de modo binário: a coisa é boa ou má, quente ou fria, divertida ou não.
“Sentimentos” normalmente são nossas percepções sensíveis imediatas do que está acontecendo a nosso redor (ou também em nós).
Amiúde, sentimentos e emoções são usados como sinônimo, mas devem ser distinguidos em alguma medida. Sentimentos, pode-se dizer, são o pré-requisito da emoção: pavimentam o caminho para uma experiência mais profunda, mais difusa de algo.
Uma coisa é ver algo como uma situação ruim, reconhecendo que é verdadeiramente má; outra coisa inteiramente diferente é passar por aquela situação pessoalmente (por exemplo, ver um acidente de carro versus estar no acidente).
As emoções normalmente são duas coisas:
- 1. Surgem a fim de ajudar-nos a reagir;
- 2. Ajudam-nos a estar preparados e alertas.
Dada a complexidade do corpo humano, podemos estar certos de que ninguém realmente sabe onde o metafisico encontra o físico. Não sabemos de fato onde nossa experiência emocional encontra o trauma e a angústia físicos que experimentamos nas entranhas. Quando você está deprimido, sente em sua alma e sente no seu corpo real.
Mais uma vez, isso acontece porque somos pessoas inteiras. Emoções são dadas por Deus e podem ser uma dádiva maravilhosa. Ouvir atentamente a sua amiga descrever o turbilhão por que ela está passando deve ajudá-lo a ser empático em sua resposta. Lembre-se: emoções nos preparam para a ação e ajudam-nos a reagir a uma experiência.
Sua empatia em responder a alguém em necessidade é um recurso maravilhoso para viver no mundo de Deus, algo que provavelmente devemos cultivar mais do que costumamos. Todavia, emoções não são neutras e ou servirão ao fim da glória de Deus, ou não, o que quer dizer que essas emoções podem estar em situação pecaminosa.
Ora, emoções são instrumentos complexos
Você pode, num momento, experimentar um turbilhão de emoções. Você pode sentir empolgação, nervosismo, admiração e incerteza. É bem possível ter emoções mistas, e isso porque somos pessoas que provêm da Pessoa. Deus é a Personalidade Absoluta que pensa, sente e age. O próprio Jesus teve emoções mistas!
Contudo, o modo como lidamos com a complexidade é desenvolvendo a maturidade e o domínio próprio necessários para entendê-las, o que quer dizer que podemos então manejá-las adequadamente. Queremos usar nossas emoções, não que nossas emoções nos usem. O propósito das emoções é realmente bem simples.
Deus nos deu emoções a fim de comunicar (especialmente coisas que são importantes para nós), ajudar a relacionar-nos uns com os outros, mover-nos em direção à ação virtuosa no mundo, e ajudar-nos a adorar a Deus. A essência do homem não é a emoção, mas temos emoção. Mais uma vez, somos pessoas inteiras. Temos, no entanto, de usar nossas emoções de maneira santa.
O título desta mensagem é “Taxas de bagagem emocional”, este nome é pertinente porque estamos lidando com todos os modos de como nossa experiência da emoção. Por exemplo, às vezes, encontramo-nos num estado de: desapontamos em
Negação: “Não posso ficar aborrecido ação, afinal, não é um fardo que tenha com esta situ- que carregar”.
Minimização: “Nem me sinto tão mal quanto a isso”.
Culpa: “De todo modo, foi mesmo culpa dela”. Racionalização/intelectualização: “Não devia me sentir assim, afinal, há uma explicação lógica por que isso aconteceu”.
Distração: “Não me permitirei sentir-me assim, então me manterei ocupado fazendo outra coisa”.
Hiper-reação/hostilidade: “Sinto-me traído, então vou me vingar”.
Projeção: “Em minha amargura para com esta pessoa, vou acreditar que ela me odeia”.
Todas essas reações carecem de maturidade e, por isso, de domínio próprio
Uma das melhores maneiras de mostrar autocontrole é parar e perguntar: “O que Deus requer de mim neste momento?” Como Deus quer que eu pense neste exato momento? Como ele quer que eu me sinta? O que as minhas emoções atuais dizem sobre mim? O que as minhas emoções atuais dizem sobre a minha visão de Deus?
O que as minhas emoções atuais estão me dizendo sobre esta pessoa que sou chamado a amar e servir? Se puder fazer essas perguntas e respondê-las adequadamente, você terá a capacidade de ver claramente e responder de modo piedoso. E não confunda: domínio próprio está no centro de tudo isso.
Deus quer que respondamos às coisas emocionalmente, mas com a emoção certa, não com a errada. Isso quer e pessoas dizer que maduras. temos de ser emocionalmente saudáveis.
Para lidar com as taxas de bagagem e sua especulação confusa quanto a infligir dano a nós mesmos e a outros, é preciso lembrar que temos de amadurecer. Temos de amar a Deus com nossa mente, corpo, coração, alma, força e emoções (Deuteronômio 6.4-7; Mateus 22.37-40; Marcos 12.30-31, e Lucas 10.27).
Deus quer que sejamos maduros e mostremos padrões emocionais saudáveis que reflitam o Senhor Jesus Cristo. Às vezes, essa emoção é ira, às vezes é alegria pura. De todo modo, a emoção tem de ser saudável, eticamente pura e alinhada com as Escrituras.
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Reconstruindo o Coração (A Dádiva da Culpa)
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Abriram-se, então, os olhos de ambos; e, percebendo que estavam nus, coseram folhas de figueira e fizeram cintas para si. Quando ouviram a voz do Senhor Deus, que andava no jardim pela viração do dia, esconderam-se da presença do Senhor Deus, o homem e sua mulher, por entre as árvores do jardim. Gênesis 3.7-8.
Pois qualquer que guarda toda a lei, mas tropeça em um só ponto, se torna culpado de todos. Tiago 2.10. O grande problema que acossa o homem, a complicação sumamente exasperante que o deixa incomodado em toda a sua existência e labuta é a busca de um lugar para depositar sua culpa. Desde o início, o homem foi acometido pelo sentimento de culpa; todavia, muito antes de virem os sentimentos, estava a realidade objetiva: o homem pecou contra Deus.
Quando Adão e Eva escolheram quebrar a aliança com Deus, fizeram-no por causa da tentação da autonomia:conhecer e determinar o bem e o mal por si mesmos (Gn 3.5). Uma vez que os desejos do coração são postos em movimento, a mente passa a raciocinar para justificar-se.
O que o coração anseia, a mente proclama que é justo e bom. O que as emoções almejam, a vontade vê e faz acontecer. Este ciclo de autodeterminação trouxe dano à alma do homem e destruição à ordem criada. Como Gênesis 3 claramente articula, todo o nosso ser foi maculado, quebrado e contaminado pelo pecado. Assim como a mente, nosso estado emocional é afetado pelo pecado também.
A culpa
Um subproduto desta apostasia pactual e autodestruição é a culpa: os olhos de Adão e Eva se abriram, e souberam que estavam nus e sentiram culpa e vergonha, o que os levou a esconder-se de Deus. A culpa nos faz fugir. A culpa, então, está ligada à lei de Deus porque, quando há uma transgressão da aliança de Deus, a culpa é o resultado necessário.
O que é culpa?
Talvez uma definição funcional de culpa seja válida. A culpa é o estado pactual de transgressão da lei de Deus que dá origem a sentimentos de insegurança e condenação devido ao abandono da responsabilidade e obediência a Deus. Observe como Tiago 2.10 estrutura isso: quando quebramos uma lei, somos culpados de quebrar todas elas
Uma violação representa uma violação completa. Romanos 3.18 também diz o mesmo: “Ora, sabemos que tudo o que a lei diz, aos que vivem na lei o diz para que se cale toda boca, e todo o mundo seja culpável perante Deus”.
Como o pecado, por definição, é a transgressão da lei de Deus (1Jo 3.4), e não a transgressão dos sentimentos ou padrões arbitrários estabelecidos pelos homens, podemos concluir que a culpa, que vem da transgressão, é também tão objetiva, real e definida como a própria lei.
Junto com as leis de Deus, estão as consequências da lei de Deus, e culpa e vergonha estão no primeiro plano. Em suma: a culpa pressupõe responsabilidade, e responsabilidade pressupõe objetividade. O que Deus tenciona é que o pecado tenha repercussões em tempo real.
Por causa do pecado, nossa boca está fechada (o que podemos dizer?) e somos culpados.
Podemos murmurar quanto a isso de tempos em tempos, mas a murmuração não remove a culpa. Também podemos culpar o ambiente, como Adão e Eva, mas nosso ambiente não nos faz pecar nem a troca de acusações remove a culpa. Em outras palavras, “Assim diz o Senhor” vem muito antes do que você pensa ou sente.
Devido à natureza abrangente da vida na palavra de Deus, Deus considerou justo garantir que nossa rebelião receberá a devida punição. E o modo poderoso que Deus escolheu para fazer isso é pela administração da culpa àqueles que violaram sua santidade. A culpa significa que Deus, por meio do instrumento de sua palavra-lei, toca em seu ombro e diz: “Já chega”.
É uma rédea para nos impedir de seguir impetuosamente no pecado e na devassidão. A natureza abrangente da culpa significa que todo o nosso ser está em risco de instabilidade emocional. Culpa objetiva resulta em sentimentos subjetivos de culpa. Uma violação pactual real resulta em volatilidade emocional. É um dom de Deus. A culpa existe é para afastar-nos dela – isso é tudo.
A verdadeira culpa, em oposição à falsa culpa, é uma característica de autocorreção da graça de Deus. A culpa é uma graça cujas intenções são puras. A culpa foi projetada para ajudar-nos a afastar-nos dela. Ora, o homem caído é um homem marcado pela culpa, e sempre haverá o desejo de encontrar formas de lidar com este enigma. O homem buscará em toda parte um lugar para esconder a culpa. Alguns escolherão ignorar a culpa e edificarão sobre a autocondenação.
Outros, como Freud, divorciarão culpa e pecado e, ao contrário, anunciarão ao mundo esta agora é um problema apenas biológico. A terceira e única opção verdadeira é correr para Cristo, mas agora melhorando a nós mesmos. melhorando Sigmund Freud (1856-1939) acreditava no poder supremo da autoanálise e da psicanálise.
Ao deslocar a culpa das garras do pecado e, por consequência necessária, da teologia
Freud foi capaz de tornar a culpa uma condição biológica e uma categoria a ser manipulada. Se a culpa pode estar divorciada da aliança, não há, então, sanções em que o homem incorra. A responsabilidade diante de Deus é afrouxada e encontra uma justificativa.
Como resultado desta manobra, a culpa se torna um impulso do id (o que chamamos de “carne” pecaminosa) a ser controlado pelo ego (a mente) e pelo superego (a consciência).
A teologia cristã lida com a carne pecaminosa do homem ao renová-lo em Cristo – uma reversão da maldição adâmica do pecado – com a intenção de restaurar o homem todo, um processo de restauração pactual e de santificação. Freud, que rejeita pressupostos religiosos, chamou-o de id, ego e superego, e isso era simplesmente o homem tentando controlar seus impulsos e desejos.
Ao abraçar a natureza biológica e antropológica do pecado, Freud pressupunha que a culpa não era nada senão uma reação química a ser domada. Entretanto, como é feito à imagem de Deus, o homem é responsável diante de Deus: é inequivocamente responsável e culpável.
No entanto, o homem em seus pecados não quer subordinar-se a Deus e absolutiza sua missão:
- Abre mão da culpa e de todos os seus entrelaçamentos, não importa o custo.
- A revolução sexual de nossos dias?
- A cultura da morte?
- A insistência na autonomia corporal?
Tudo isso é uma tentativa do homem de livrar-se da culpa e de sua responsabilidade diante de Deus. A culpa não pode ser relegada apenas à mente ou apenas à biologia. Não pode ser reduzida a meros construtos e estigmas sociais.
A culpa é a teologia aplicada à totalidade do homem.
Isso quer dizer que a culpa não diz respeito a nossos sentimentos. Ela não se importa com seu padrão de verdade. A culpa vem de Deus por meio da lei de Deus e é inteiramente indiferente ao que você pode pensar ou sentir em suas tentativas de livrar-se dela.
Não é biológica, é pactual. Se o problema é meramente externo, então alguém também há de ser culpado. Se é meramente interno, então devemos fugir e seguir os gregos. Mas a verdade é que é ambos. Um homem que toma um tiro sente dor, sem dúvidas.
Mas, antes que a dor, há uma realidade objetiva: ele foi atingido por alguém. Sentimentos de culpa fluem de sua culpa diante de Deus, mas, ainda assim, são um rio assolado pela culpa.
Se é possível para a mente ser maculada pelo pecado a ponto de cair em raciocínios falaciosos, não se seguiria que nossas emoções, semelhantemente maculadas pelo pecado, possam cair em sentimentos falaciosos?
Evidentemente. Uma das maneiras pelas quais tentamos controlar a culpa e livrar-nos dela é fazendo concessões a falsas culpas. Culpa inapropriada pode ser o problema mais debilitante que cristãos não podem enfrentar. Sentimo-nos culpados de coisas que devíamos, de coisas que são legítimas, e então não sentimos culpa de coisas que deveríamos, coisas ilegítimas.
E isso por causa de duas valas: de um lado, temos a licenciosidade; do outro, o farisaísmo. A razão por que caímos nessas valas é que não temos certeza de onde encontrar a estrada, e isso resulta de nossas janelas espirituais estarem nevoentas. Quando abrimos mão de nossa culpa pela falsa culpa, somos motivados por essas duas valas mortais.
Às vezes, queremos ser livres em áreas em que não temos permissão para ser livres
Outras vezes, queremos ser mantidos cativos em caminhos em que não temos permissão de manter-nos cativos. A semelhança subjacente dessas duas valas na estrada da culpa inadequada é o problema da objetividade: simples- mente não queremos compreender a lei de Deus.
A verdadeira culpa nos leva ao evangelho de perdão e, então, à lei, como uma medida corretiva. A falsa culpa tropeça na escuridão tentando controlar impulsos por conta própria. Talvez você seja movido pela culpa em sua tomada de decisão e nos relacionamentos, porque quer deixar todos felizes. Esta falsa culpa leva-o a dizer “sim” a tudo e “não” nada.
Você quer que as pessoas gostem de você, pensem bem a seu respeito, então você está disposto a fazer concessões no que realmente pensa a fim de conquistar o apoio de alguém. Você é o que a Bíblia chama de “homem de ânimo dobre” (Tiago 1.8; cf. Provérbios 23.7; 26.20). Esta pessoa é instável porque deixou a lei de Deus em favor de seu próprio padrão tolo e mutante.
Com uma pessoa, ela diz isto, com outra, diz alguma outra coisa. Esquiva-se da culpa, em vez de enfrentá-la à luz de seu relacionamento com Deus. Ou talvez você esteja num lugar emocionalmente instável neste exato momento, e por isso trava e tenta pensar num modo de livrar-se do sentimento de culpa.
Você pode estar sinceramente sofrendo de depressão por dezenas de razões diferentes
Mas, em vez de alinhar-se com a lei de Deus, você ativamente se afasta a fim de abafar a dor. Você também pode estar tentando livrar-se da culpa. Ambas as pessoas estão abrindo mão de sua culpa e ambas o fazem de maneiras diferentes. Em vez de lidar com nós mesmos e com os outros à luz da lei de Deus, gostamos de criar nossos próprios padrões e expectativas, e então impô-los aos outros.
Deixe-me explicar
A falsa culpa é uma tentação porque o homem natural não quer conformar-se com a realidade de ser culpável diante de Deus. É mais fácil sentir culpa pelas coisas erradas, porque as coisas erradas são criadas do nada. Um homem pode sentir-se absolutamente arrasado pelas baleias caçadas na África do Sul e, no entanto, estar inteiramente bem com o aborto e com o casamento entre pessoas do mesmo sexo.
A verdadeira culpa pressupõe verdadeira retidão e verdadeira justiça; a falsa culpa pressupõe falsa retidão e falsa justiça. A falsa culpa é muito mais preferível, porque a falsa retidão e os falsos padrões nela contidos são muito mais controláveis por nós mesmos – – eles fazem o que nós queremos que façam
Se quer saber a que Deus você está servindo, rastreie sua culpa até o padrão de retidão a que você alega aderir. Sempre há um deus do sistema. Sempre. A falsa culpa é o que a culpa verdadeira usa para fazê-lo voltar para Deus. O fardo da falsa culpa é muito mais fácil de lidar porque o ídolo é muito mais leniente que o Altíssimo.
Lembre-se do que já abordamos em Romanos 3.19. O motivo pelo qual Deus fecha a boca de todos, tornando-os culpados diante dele, é que Deus pretende salvar o mundo. Deus não salva não pecadores: Jesus veio para os doentes, não para os sãos (Marcos 2.17). Deus está interessado em remover a nossa culpa, livrar-nos da vergonha e fazer tudo isso com base na obra de Jesus Cristo. Deus quer que seus culpados escolham livrar-se deste fardo.
Mas o único modo de sair do estado pactual de culpa é por meio da expiação pactual, e isso nós simplesmente não podemos fazer por nós mesmos. Precisamos de justificação. Precisamos da declaração “absolvido” e da outra declaração maravilhosa que vem com ela: “justo”. Ou corremos para a expiação de Cristo a fim de sermos libertos da verdadeira culpa, ou tentamos livrar-nos da culpa de outros modos.
Um caminho leva à vida; o outro, à morte (veja Pv 28.1, 17).
Mas temos um problema imenso: o Senhor leva, sim, em conta as nossas transgressões. Davi disse que o homem cujas transgressões são perdoadas e cujo pecado é coberto (Salmo 32.1).
- Mas como um homem pode ser perdoado quando é culpado?
- E como Deus pode ser ao mesmo tempo justo e justificador?
- Se Deus justifica o culpado, isso não o torna um juiz injusto, deixando-nos sem punição?
- Se Deus nos pune, como nossa culpa pode ser anulada?
- Desse modo, ele já não seria o tipo de Deus que pode justificar.
A resposta a este grande problema é a cruz de Jesus Cristo.
Já demonstramos que nossa culpa não pode ser aplacada por alterações biológicas. O pensamento freudiano é inútil. Precisamos de algo mais. Precisamos de alguém mais. Só se pode tratar do pecado pela confissão, e a confissão – o fundamento de nossa fé atrelada ao perdão de Cristo, é uma garantia pactual da parte de Deus. Eis o que quero dizer:
Só temos duas opções:
1) Podemos tentar lavar-nos a nós mesmos, mas o sabão não remove as máculas da iniquidade (Jeremias 2.22). 2) Podemos deixar que o sangue de Cristo nos lave e nos salve de nossa culpa.
A opção dois é o único modo verdadeiro de realizar isso. Quando confessamos que Jesus é o Senhor e cremos no coração que Deus o levantou dos mortos, nós, como cria- turas pensantes e sencientes, somos trazidos à restauração pactual. Em Cristo, somos feitos inteiros; somos declarados “justos” ” e “inocentes”.
A justificação nos liberta do pecado e de suas consequências mortais de culpa e vergonha. Mas o evangelho não afrouxa as cadeias da culpa, ele as destrói por inteiro. Você é verdadeiramente livre. Você já não precisa jogar o jogo da culpa. Deus é justo e justificador, e você está livre (Rm 3.26; 8.1).
O descrente paralisado pela culpa só pode tentar debater- -se, arrastando seus grilhões e fingindo que não existem. Mas, em Cristo, você não tem os grilhões, porque f E mesmo quando esses grilhões se rompem, bem real de criar outras cadeias foram destruídos. há uma tentação – as cadeias da falsa culpa.
Para o descrente, a culpa corrói o ser até que ele se arre- penda ou pereça
Para o cristão, entretanto, a culpa é algo bom, porque a culpa quer dizer que a lei está em ação em nossa vida, e que nossa fé e confiança na suficiência de Cristo também estão em funcionamento. Quando não mantemos o evangelho no primeiro plano de nosso pensamento e sentimento, começamos a encontrar modos de livrar-nos de nossa culpa.
Em vez de lidar com Cristo, preferimos encolher-nos em nossa própria autopiedade, deixando de crer que Cristo nos ama. Em vez de ser consumidos com o amor de Deus em Cristo, preferimos murmurar e reclamar que as coisas não estão “a nosso gosto”, de modo que tomamos a nossa culpa e a lançamos sobre os outros, chantageando-os para que nos aliviem.
Conclusão
Se não lidamos com Cristo e a abolição da culpa e da vergonha em nossa vida, seremos tentados a arriscar e fabricar um ídolo para aliviar a nossa consciência.
Em vez de fazer isso, vá a Cristo. Da próxima vez que se sentir culpado, verifique se há culpa verdadeira ou falsa. De todo modo, vá a Cristo. Vá à cruz onde você morreu com ele. Vá ao sepulcro onde você foi sepultado com ele. Vá ao trono onde você foi levantado com ele. Vá até ele.
Entregue-lhe a sua perdoar os culpa. Entregue-lhe suas tentações. Entregue-lhe seus peca- dos. E lembre-se de que ele é fiel e justo para nos pecados e purificar-nos de toda injustiça (1 João 1.19). Cristo levou sua culpa e vergonha; não ouse tentar pegá-las de volta.
J.R. Santos