Teologia Sistemática
A Cognoscibilidade e a Incompreensibilidade de Deus
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Segundo Dr. Gregg R. Allison por causa de sua autorrevelação, Deus pode ser conhecido, mas nunca plenamente compreendido, por suas criaturas humanas. Tanto a revelação geral quanto a especial são meios pelos quais Deus se manifesta.
Como portadores da imagem divina, os seres humanos são capazes de conhecer a Deus. Essa cognoscibilidade não é total, mas é real e suficiente, adequada à capacidade humana.
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Incompreensibilidade não significa que Deus seja totalmente ininteligível, mas, sim, que nós não podemos jamais compreendê-lo totalmente.
ENTENDENDO A DOUTRINA
Dr. Gregg R. Allison diz que por causa de sua autorrevelação, Deus pode ser conhecido por suas criaturas humanas. Essa cognoscibilidade se baseia em dois fatos:
(1) a decisão espontânea de Deus quanto a tornar-se conhecido por meio da revelação geral e da especial, e (2) a capacidade que Deus deu aos seres humanos, como portadores da imagem divina, de conhecê-lo.
Conhecer a Deus pessoalmente é o maior privilégio e orgulho dos crentes. Trata-se da própria vida eterna e vem somente por meio da revelação de Deus no Filho. Ainda assim, os incrédulos têm algum conhecimento de Deus, mas o reprimem para sua própria destruição.
A revelação geral é a revelação de Deus a todos os povos em todos os tempos e em todos os lugares. Ocorre por meio da criação, da consciência, do cuidado providencial de Deus e de um senso inato de Deus que todas as pessoas possuem.
Os receptores da revelação geral sabem que Deus existe e conhecem alguns de seus atributos divinos e os princípios básicos de sua lei moral.
A revelação especial é a revelação de Deus a determinadas pessoas, em momentos específicos e em lugares específicos. Ocorre por meio de eventos históricos, de sonhos e visões, do discurso divino direto, da encarnação e da Escritura.
Os receptores da revelação especial conhecem o caminho da salvação e sabem como andar com Deus de modo a agradá-lo plenamente.
O Conhecimento de Deus
O conhecimento de Deus que as pessoas possuem não é um conhecimento exaustivo, mas é real (é conhecimento genuíno do Deus criador-redentor) e suficiente, divinamente adaptado à capacidade humana limitada.
Em outras palavras, Deus é incompreensível. Se pensarmos em um dos sentidos do termo, “incompreensível” significa que algo é completamente ininteligível, do qual nada se pode saber. Não é nesse sentido que Deus é incompreensível.
O sentido aqui é que Deus nunca pode ser completamente compreendido: embora seja cognoscível, à medida que se revela e do modo como se revela, Deus nunca pode ser plenamente compreendido.
Inclusive, nem mesmo um único aspecto de Deus — conhecimento, poder, caminhos, justiça etc. — pode ser totalmente compreendido.
Essa limitação se deve a dois fatores: criaturas finitas não podem jamais entender completamente o Deus infinito, e as criaturas humanas padecem dos efeitos noéticos (intelectuais) da Queda, de tal forma que sua compreensão de Deus é distorcida.
Alguns cristãos acrescentam a essa discussão as provas tradicionais da existência de Deus
Os argumentos ontológicos (gr., ontos, “ser”) dizem respeito ao ser de Deus. São argumentos a priori, ou seja, anteriores à experiência humana.
Assim, seu foco está em pensar sobre o conceito de Deus sem recorrer a nenhum conhecimento experiencial dele.
Os argumentos cosmológicos (gr., kosmos, “mundo”) dizem respeito a este mundo. Sendo argumentos a posteriori, baseiam-se na experiência, mais especificamente na causação.
Para que este mundo exista, como de fato existe, deve ter havido alguma causa, que é Deus.
Os argumentos teleológicos (gr., telos, “propósito”) dizem respeito ao design que se evidencia neste mundo. Sendo argumentos a posteriori, baseiam-se na experiência de desígnio e propósito.
Argumentos morais dizem respeito ao senso humano de certo e errado. Sendo argumentos a posteriori, baseiam-se na experiência moral humana.
Os cristãos não têm uma opinião unânime a respeito da solidez e eficácia desses argumentos racionais para a existência de Deus.
Base bíblica
Segundo Dr. Gregg R. Allison desde sua primeira página, a Escritura tem como pressuposto que Deus é cognoscível.
Aliás, a Escritura é a forma escrita, divinamente inspirada, da revelação de Deus aos portadores de sua imagem, cujo objetivo é permitir que eles possam conhecê-lo.
Como Jeremias ressalta: “Assim diz o SENHOR: Não se glorie o sábio na sua sabedoria, nem o forte na sua força, nem o rico nas suas riquezas.
Mas quem se gloriar, glorie-se nisto: em me entender e me conhecer, pois eu sou o SENHOR, que pratico amor inabalável, justiça e retidão na terra” (Jr 9.23,24).
O único motivo que um humano pode ter para se gloriar é o fato de conhecer o Deus vivo.
A Bíblia mostra cinco modos de revelação especial, que é a comunicação entre Deus e pessoas específicas escolhidas por ele.
(1) A Escritura conduz à fé em Cristo para salvação e capacita os crentes para toda boa obra (2Tm 3.15-17). Outros modos são:
(2) acontecimentos históricos (p. ex., o Êxodo), pelos quais Deus manifestou poder, justiça e ira;
(3) sonhos e visões (p. ex., para Abraão e José), comunicações internas pelas quais Deus revelou sua vontade;
(4) pronunciamento divino direto (p. ex., a comunicação de Deus com Moisés), por meio do qual ele expressou seus mandamentos e promessas;
e (5) a encarnação, pela qual o Filho de Deus se tornou homem e revelou as palavras, as obras e a natureza de Deus.
Certas pessoas, em determinados momentos e em determinados lugares, recebem revelações especiais que lhes permitem conhecer pessoalmente a Deus, seus caminhos e sua vontade.
A Revelação de Deus nas Escrituras
Independentemente da Escritura, mas confirmada por ela, a revelação geral é o meio pelo qual Deus se revela universalmente.
Essa revelação ocorre de quatro modos:
- (1) a criação, que revela o Deus criador (Rm 1.18- 25; Sl 19.1-4);
- (2) a consciência humana, pela qual todas as pessoas conhecem algo dos padrões divinos de certo e errado e que, portanto, revela Deus como o legislador moral (Rm 2.12-16);
- (3) a providência divina, a obra contínua de Deus, pela qual ele sustenta a criação existente, revelando, assim, sua bondade e cuidado (At 14.8-18);
- (4) um senso inato de Deus, uma consciência, divinamente implantada, de que Deus existe e merece ser adorado (At 17.22-31).
Todos os povos, em todas as épocas e em todos os lugares, recebem a revelação geral, pela qual sabem que ele existe, conhecem alguns de seus atributos e sabem alguma coisa de sua lei moral.
Embora a revelação geral realmente manifeste Deus, ela não é suficiente para fazer com que as pessoas tenham um conhecimento pessoal de Deus que leve à adoração sincera e à dependência dele.
O problema não está na revelação geral em si, mas nos receptores pecaminosos, que não conseguem ver essa revelação como deveriam.
Ao rejeitarem a revelação geral, eles são indesculpáveis (Rm 1.20). Não conhecem a Deus como deveriam; portanto, “não conhecem a Deus” (1Co 1.21; Gl 4.8; 1Ts 4.5).
Somente a salvação por meio de Cristo pode eliminar a cegueira pecaminosa dos incrédulos.
Como Jesus explica: “Ninguém conhece o Filho, senão o Pai; e ninguém conhece o Pai, senão o Filho e aquele a quem o Filho escolhe para revelá-lo” (Mt 11.27).
Para conhecer o Pai, é preciso que o Filho o revele, capacitando pessoas pecadoras a conhecerem Deus para sempre.
Como disse Jesus em sua oração: “E a vida eterna é esta: que conheçam a ti, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, que enviaste” (Jo 17.3; cf. 1Jo 5.20).
Esse conhecimento salvador vem por meio do Espírito Santo, autor da Escritura e aplicador da redenção (1Co 2.10-13; 12.1-3).
Enquanto esperam pelo dia em que conhecerão Deus face a face, os crentes o conhecem agora, pela fé, de um modo parcial, porém verdadeiro (13.12).
Mesmo conhecendo Deus face a face, ele será sempre incompreensível. Certamente, Deus manifestou as coisas “reveladas” a seu povo, mas há muito sobre ele que se enquadra na categoria das “coisas secretas” — que Deus não revelou e jamais revelará (Dt 29.29).
A incompreensibilidade divina é destacada em Jó, em uma série de perguntas: “Poderás descobrir as profundezas de Deus? Poderás descobrir a perfeição do Todo-Poderoso?
A sabedoria de Deus é tão alta quanto o céu. Que poderás fazer? É mais profunda do que o sheol! Que poderás saber?” (Jó 11.7,8).
As respostas são “não” e “nada”. Esse dilema se deve à distinção Criador-criatura: Deus é infinito e os seres humanos são finitos.
Portanto, a capacidade humana de conhecer também é limitada (Is 40.18). Aliás, não conseguimos compreender completamente coisa alguma a respeito de Deus.
Sua grandeza (Sl 145.3), seu entendimento (Sl 147.5), seu conhecimento (Sl 139.6), seus caminhos e pensamentos (Is 55.9), bem como sua riqueza, sua sabedoria, seus juízos e seus caminhos (Rm 11.33).
Consequentemente, Deus é cognoscível da maneira e à medida que se faz conhecido por meio das revelações gerais e especiais.
O conhecimento humano de Deus é parcial, porém verdadeiro e suficiente, conquanto Deus permaneça incompreensível.
Principais erros sobre esta Doutrina
Agnosticismo é a negação da cognoscibilidade de Deus. Ateísmo é a negação da existência de Deus. Os dois são contestados pela perspectiva bíblica sobre a cognoscibilidade de Deus e pela experiência religiosa universal.
Algumas pessoas afirmam conhecer Deus de uma forma mais profunda e íntima do que os demais porque possuem algum conhecimento secreto.
Essa ideia gnóstica ou mística inventa novos caminhos para alcançar o conhecimento de Deus (p. ex., um ascetismo extremo que conduza ao êxtase).
Isso é refutado pelos meios divinamente ordenados, especialmente a Escritura, pelos quais esse conhecimento deve ser obtido.
A obsessão moderna com a experiência humana como fonte suprema do conhecimento de Deus.
Evitando a revelação divina, especialmente a Escritura, essa abordagem formula sua concepção de Deus com base em experiência individual, revelações pessoais e coisas semelhantes. Isso nada mais é do que uma projeção humana em Deus.
Para que você possa se aprofundar e continuar seus estudos, leia o nosso próximo artigo, para você ter uma visão mais acurada do assunto indico o livro “50 Verdades centrais da fé Cristã” de Gregg R. Allison que deu origem a este artigo. Deus abençoe, até o próximo texto.
