Teologia Sistemática
A Disciplina da Igreja
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A disciplina da igreja é o processo de repreender e corrigir membros em pecado, com o objetivo de restaurá-los. A disciplina da igreja é uma antecipação do julgamento futuro que aguarda os membros pecadores se persistirem em seus pecados.
É um processo de repreensão e correção, com um nível crescente de intervenção e severidade. É composta de quatro estágios.
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Seu objetivo é sempre a restauração, mas ela também serve para livrar a igreja de exemplos pecaminosos e proteger a honra de Cristo e da igreja.
Se o problema persiste, o último estágio é a excomunhão. A igreja deve aplicar disciplina em vários casos.
Entendendo a Doutrina da Disciplina da Igreja
Segundo Gregg R. Allison a disciplina eclesiástica é um instrumento que Cristo dá à sua igreja para promover a pureza e limitar o caos causado por pecados persistentes.
A igreja a exerce em antecipação do futuro julgamento de Cristo. Naquele evento escatológico, Cristo determinará o julgamento de pessoas pecadoras.
Para que seus membros não enfrentem uma sentença ruim, a igreja exerce a disciplina para repreender e corrigir os que persistem no pecado.
Assim, a disciplina da igreja é um sinal antecipatório: a igreja proporciona uma amostra do futuro julgamento divino, e sua disciplina reflete a seriedade daquela sentença que nos dá a sensação de que algo terrível vai acontecer.
A disciplina da igreja também é um sinal declarativo: a igreja acredita que sua ação reflete o julgamento divino que está por vir, mas reconhece que não emite um pronunciamento infalível.
A sentença definitiva pertence somente a Cristo
Em antecipação desse veredito, a igreja aplica disciplina aos membros que persistem no pecado.
A disciplina da igreja é um processo de repreensão e correção composto de quatro estágios, com um nível crescente de intervenção e severidade.
O primeiro estágio é a confrontação pessoal. Um cristão que foi alvo de pecado cometido por outro cristão tem uma conversa cara a cara com o ofensor.
Se o ofensor reconhece seu pecado, o assunto é resolvido. Os dois são reconciliados, e o processo termina. Se não houver admissão de pecado, o processo passa para o estágio seguinte.
O segundo estágio envolve a pessoa ofendida e um ou dois outros que repreendem o cristão que pecou. A(s) outra(s) testemunha(s) garante(m) que o acusado seja adequadamente confrontado.
Se o ofensor confessar seu pecado, a questão é resolvida. Os dois são reconciliados, e o processo termina. Se não houver reconhecimento de pecado, a(s) testemunha(s) confirma(m) essa recusa.
O processo passa para um estágio mais grave
O terceiro estágio envolve toda a igreja. O problema arraigado é comunicado e a igreja inteira toma ciência do pecado inicial que provocou a situação, bem como do fato de que os dois estágios iniciais falharam e não produziram o arrependimento desejado.
Agora os membros admoestam o membro pecador, exigindo confissão e reconciliação. Se o ofensor confessar seu pecado, a questão é resolvida.
Os dois são reconciliados, e o processo termina. Se o ofensor se recusar a ouvir a admoestação da igreja, o processo aumenta para o nível mais grave.
O quarto estágio envolve novamente toda a igreja, que promulga a excomunhão. Essa ação implica a remoção do ofensor do rol de membros e dos ministérios da igreja, a exclusão da ceia do Senhor e a ruptura do relacionamento com a igreja e com Deus.
O objetivo desse processo disciplinar é sempre a restauração
A igreja espera a confissão do pecado e ora por ela, a qual leva à reintegração da pessoa excomungada. Aliás, quando essa pessoa se arrepende, a responsabilidade da igreja é recebê-la calorosamente de volta à comunidade.
Sabedoria e prudência pedem que a igreja providencie medidas específicas para ajudar o membro reintegrado a progredir em santidade, bem como para evitar uma recaída.
Um possível retorno ao ministério deve ser cuidadosamente avaliado para determinar se e quando isso poderá ocorrer.
A disciplina atende também a dois outros objetivos: a excomunhão ajuda a igreja, livrando-a de exemplos pecaminosos que tendem a provocar mais pecados.
A remoção do membro persistentemente pecaminoso tem um efeito profilático, impedindo a propagação do pecado.
Além disso, a excomunhão protege a honra de Cristo e da igreja
Essa medida drástica ressalta que Cristo é santo e não tolera pecado persistente e não confessado (embora o perdoe quando confessado).
Mostra também que o corpo de Cristo, sendo santo como ele, não tolera pecado obstinado (embora seus membros continuem sendo pecadores).
O cenário que acabamos de apresentar é o mais comum, em que um cristão peca contra outro.
Porém, há outros problemas que requerem disciplina da igreja, tais como:
- (1) falha moral notória/pública, como imoralidade sexual flagrante.
- (2) ensino herético; a disciplina atua para impedir a disseminação de falsas doutrinas
- (3) ameaça de divisão, que, se não for contida, romperá a unidade da igreja
- (4) ociosidade, recusa ao trabalho, embora sendo apto;
- (5) falhas de liderança, que exercem uma ampla influência sobre os membros da igreja
- (6) outros pecados persistentes, não confessados e públicos que podem causar danos irreparáveis aos cristãos e à igreja.
A igreja segue várias regras no exercício da disciplina
Ela determina os pecados pelos quais exerce disciplina ouvindo a Escritura. A suficiência da Escritura significa que as atitudes e ações proibidas pela Escritura, e somente aquelas, são pecado.
A igreja não pode aumentar essa lista, inventando “pecados” para os quais ela aplica disciplina.
Ao contrário, ela disciplina apenas os pecados condenados pela Escritura. Além disso, o processo deve ser conduzido com misericórdia por cristãos cheios do Espírito, que devem cuidar para que eles próprios não caiam em pecado.
Base bíblica
Gregg R. Allison diz que a disciplina da igreja é um dos usos das “chaves do reino”, de acordo com o que “o que ligares [no contexto original, Pedro, em conjunto com os apóstolos; e agora, por extensão, a igreja.
Na terra terá sido ligado no céu, e o que desligares na terra terá sido desligado no céu” (Mt 16.19). A ligação e o desligamento são aplicados especificamente ao processo de disciplina da igreja (Mt 18.18).
As declarações de Jesus relacionam a disciplina da igreja com seu trono de juízo escatológico. É a declaração da igreja que deve refletir a sentença judicial de Cristo.
Para o membro que persiste no pecado, a excomunhão da igreja declara que ele está preso em seu pecado. Para o membro arrependido, sua restauração pela igreja à membresia declara que ele está livre de seu pecado.
A disciplina da igreja é realizada no presente, mas é exercida em relação ao futuro julgamento divino.
Jesus apresenta o processo de quatro estágios em Mateus 18.15-20. Como último passo, a igreja excomunga o membro em pecado que durante todo o processo se recusou a ouvir a admoestação — individual, do pequeno grupo e de toda a igreja.
A excomunhão envolve considerá-lo como “gentio e publicano” — isto é, como um estranho à comunidade de fé. Jesus encoraja a igreja envolvida em ação disciplinar.
Ele promete responder às suas orações, que, no contexto, são aquelas relacionadas à disciplina da igreja (p. ex., sabedoria, discernimento, unidade e vigor).
E Jesus promete sua presença especial, que, no contexto, é particularmente necessária conforme a igreja exerce essa responsabilidade que demanda tempo, trabalho e energia.
Alguns pecados são tão notórios e públicos que a igreja deve agir imediatamente para excomungar. Paulo aborda essa situação no caso de um homem coríntio que estava envolvido em imoralidade sexual com a esposa de seu pai (1Co 5.1-7).
Além de não fazer nada para deter esse pecado, a igreja de Corinto se gabava de sua atitude tolerante.
Paulo exigiu a excomunhão imediata
O homem deve ser removido da igreja. Paulo apresenta uma atmosfera judicial por meio da imagem de uma cena de tribunal: tendo autoridade apostólica, ele já julgou esse caso.
Ele promete estar presente quando os coríntios se reunirem em nome de Jesus e no poder de Jesus. O que a igreja precisa fazer é algo muito sério.
Ela deve “entregar esse homem a Satanás para destruição da carne” (1Co 5.5). A ação da igreja ao removê-lo da comunidade — local de graça, conforto e proteção — o expõe ao ataque satânico, à tentação e ao tormento.
O efeito esperado era que essas aflições fariam o homem desistir da imoralidade sexual, produto de sua “carne”, ou natureza pecaminosa.
Essa excomunhão também teve um propósito salvífico, relacionado com o julgamento futuro: “para que o espírito seja salvo no dia do Senhor Jesus” (1Co 5.5).
Pela ação drástica da excomunhão, a igreja exporia o homem ao ataque satânico, ele se arrependeria e pararia de pecar, sendo salvo do juízo divino vindouro.
Outro benefício dessa disciplina rígida é que ela protege a igreja da propagação do pecado. De acordo com o aforismo “um pouco de fermento leveda toda a massa” (v. 6).
A remoção do membro persistentemente pecador age como um elemento profilático, protegendo a igreja da expansão progressiva do pecado.
A igreja fez o que Paulo pediu
A maioria dos membros promulgou a punição. O homem foi excomungado. Além disso, a ação disciplinar funcionou como se esperava: sentindo intensa tristeza pelo pecado, o homem se arrependeu.
Consequentemente, Paulo disse à igreja que perdoasse o homem e o recebesse amorosamente de volta na comunidade (2Co 2.6-11).
A disciplina eclesiástica também é exigida em outros casos: pessoas que disseminam ensino herético (1Tm 1.3,4; Tt 1.9-14; 2Jo 9-11), provocam divisões (Rm 16.17,18; Tt 3.10,11; 1Jo 2.18,19).
E se recusam a trabalhar, embora estejam aptos para tal (2Ts 3.6,11,12), devem ser disciplinadas. Por causa de seus cargos influentes e públicos, os líderes que pecam estão em uma categoria especial (1Tm 5.19-21).
Certamente, a igreja deve estar atenta a outras situações de pecados persistentes, não confessados e públicos, e aplicar a disciplina.
Finalmente, os cristãos maduros, que estão andando no Espírito, devem incumbir-se do processo de disciplina, buscando restaurar com bondade os
membros que pecam de forma contumaz e tomando muito cuidado para não serem seduzidos pelo mesmo pecado (Gl 6.1).
Principais erros sobre a disciplina da Igreja
1. A negligência ou recusa em envolver-se na disciplina da igreja. A repreensão de Paulo acerca da atitude indiferente da igreja de Corinto para com o homem incestuoso é uma repreensão às igrejas que abandonaram ou rejeitaram essa prática.
2. Qualquer exercício de disciplina contra os membros da igreja que viole a instrução bíblica. Esses casos incluem acusar os membros de “pecado” que a Escritura não considera pecado, envolver-se no processo com um espírito de crueldade ou vingança.
Em vez de bondade, e disciplinar com o propósito de vingança, em vez de arrependimento e restauração.
Para que você possa se aprofundar e continuar seus estudos, leia o nosso próximo artigo, para você ter uma visão mais acurada do assunto indico o livro “50 Verdades centrais da fé Cristã” de Gregg R. Allison que deu origem a este artigo. Deus abençoe, até o próximo texto.
