Teologia Sistemática
A Obra do Espírito Santo
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Embora trabalhem juntos inseparavelmente, o Pai, o Filho e o Espírito Santo desempenham papéis diferentes na criação, redenção e consumação.
A obra do Espírito está particularmente ligada à fala, à aplicação da salvação (recriar e aperfeiçoar) e à sua habitação no povo de Deus (a presença divina).
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As inseparáveis operações do Deus triúno significam que as três Pessoas sempre trabalham juntas na criação, redenção e consumação.
Ainda assim, seus papéis podem ser distinguidos, o que significa que o Espírito Santo está particularmente associado a certas obras divinas.
O Espírito realiza a vontade divina no mundo e a conclui, especialmente no que se refere à fala, aplicando a salvação por meio de recriação e aperfeiçoamento, bem como habitando o povo de Deus para que seus membros sejam cheios da sua presença.
Entendendo a Doutrina da Obra do Espírito Santo
Antes de tratarmos das obras específicas do Espírito Santo, é bom mencionar as operações inseparáveis da Trindade.
Esta doutrina afirma que o Pai, o Filho e o Espírito Santo agem em conjunto em todas as obras divinas de criação, redenção e consumação.
Biblicamente, essa doutrina surge de passagens que mostram as três Pessoas divinas agindo em comum.
Por exemplo, a missão divina é apresentada como o envio do Filho pelo Pai para que pessoas que estão alienadas dele possam se tornar filhos adotivos
“E, porque sois filhos, Deus enviou ao nosso coração o Espírito de seu Filho, que clama: Aba, Pai” (Gl 4.4-6).
As três Pessoas se envolvem inseparavelmente na missão da igreja: “Há diversidade de dons, mas o mesmo Espírito; e há diversidade de serviços.
Mas o mesmo Senhor; e há diversidade de ações, mas é o mesmo Deus quem realiza tudo em todos” (1Co 12.4-6).
As três Pessoas se envolvem inseparavelmente na missão divina e na missão da igreja. Essa cooperação na atividade divina embasa a doutrina das operações inseparáveis da Trindade.
Teologicamente, a doutrina das operações trinitárias inseparáveis emerge de três outras doutrinas:
(1) a unidade das três Pessoas na natureza divina única indica que o Deus único cria, salva e santifica.
(2) A habitação mútua das três Pessoas (perichoresis) significa que, enquanto o Pai trabalha, o Filho e o Espírito, que habitam nele, trabalham em conjunto com ele.
(3) Por compartilharem uma única natureza divina, as três Pessoas têm a mesma vontade, conhecimento e poder.
Como Agostinho expressou: “O Pai, o Filho e o Espírito Santo, por serem indivisíveis, operam de maneira indivisível”.
Embora todas as obras do Deus triúno sejam comuns a todas as três Pessoas, certas atividades são pertinentes ou associadas a uma delas.
Assim, em nenhuma obra divina o Espírito Santo age independentemente do Pai e do Filho. No entanto, algumas obras divinas são da responsabilidade particular do Espírito, sem excluir as outras duas Pessoas.
Essas obras são habitar, falar, recriar e aperfeiçoar
Há muitos casos nas Escrituras em que, quando o Espírito vem sobre alguém, essa pessoa faz algo que envolve a fala (como profecia, bênção, louvor e falar em línguas).
Por exemplo, quando Deus “tirou uma porção do Espírito que estava [em Moisés] e a colocou nos setenta anciãos”, eles profetizaram (Nm 11.16,17, 25).
Também, quando o Espírito de Deus veio sobre (o não israelita) Balaão (Nm 24.2-4), ele profetizou como alguém “que ouve as palavras de Deus”, desse modo abençoando em vez de amaldiçoar Israel (Nm 22—24).
Segundo o Evangelho de Lucas, Isabel ficou cheia do Espírito Santo e pronunciou uma bênção sobre Maria (Lc 1.41,42).
Da mesma forma, Zacarias ficou cheio do Espírito Santo e profetizou (Lc 1.67). E “o Espírito Santo estava sobre” Simeão, que “veio ao templo no Espírito” e bendisse a Deus (Lc 2.25-32).
A Autoridade do Espírito Santo
No que diz respeito à revelação escrita com autoridade, a fala divina acontece por meio da inspiração da Escritura.
Essa obra é particularmente atribuída ao Espírito Santo (2Pe 1.19-21). Por sinal, o Credo Niceno- Constantinopolitano confessa a crença no “Espírito Santo, o Senhor e Doador da Vida, […] que falou pelos profetas” (grifo do autor).
Assim, falar é uma obra do Deus triúno particularmente associada ao Espírito Santo.
A segunda obra é o papel que o Espírito tem na redenção.
Todos os benefícios que Deus providencia em Jesus Cristo chegam aos cristãos por intermédio do Espírito Santo, que os une a Cristo e à sua obra salvadora.
Embora ele certamente estivesse envolvido na criação do mundo (Gn 1.2), o papel particular do Espírito na salvação é o de recriar os seres humanos decaídos e aperfeiçoá-los, produzindo a plena conformidade com a imagem de Jesus Cristo.
Essa é outra obra do Deus triúno que está especificamente ligada ao Espírito Santo.
Quando cristãos creem no evangelho, Cristo os batiza com o Espírito Santo.
Assim, eles são unidos ao corpo de Cristo e enchidos com o Espírito Santo, tornando-se templos do Espírito, o que significa que o Deus triúno habita nos crentes por intermédio do Espírito.
A Obra Particular do Espírito Santo
Essa obra particular de habitação é o cumprimento de promessas divinas feitas há muito tempo. No jardim do Éden, Deus habitava com os portadores de sua imagem.
Quando Adão e Eva pecaram, sua entrada no jardim em que haviam sido colocados e onde Deus habitava com eles foi proibida.
Eles foram banidos da presença de Deus. Ainda assim, o tema da esperança soou, pois Deus prometeu: “Farei habitação no meio de vós, e minha alma não vos abominará.
Andarei no meio de vós e serei o vosso Deus, e vós sereis o meu povo” (Lv 26.11-13; cf. Êx 29.45,46).
Para cumprir essa promessa, o Filho de Deus se fez carne (uma obra do Espírito Santo) e habitou entre as pessoas a quem veio salvar.
Então, referindo-se à igreja, Paulo observa: “Pois somos templo do Deus vivo, como Deus disse: habitarei e andarei entre eles; serei o seu Deus, e eles serão o meu povo” (2Co 6.16).
Paulo fala da expectativa do Antigo Testamento, que agora é cumprida na igreja: Deus habita em seu povo, como prometeu há muito tempo.
Assim, o Espírito Santo enche a igreja (Ef 5.18-21), e seus líderes são caracterizados pela plenitude do Espírito (p. ex., Atos 6.1-7).
Desse modo, a habitação é outra obra do Deus triúno especificamente associada ao Espírito Santo.
Base bíblica
Como a discussão das obras de falar e habitar do Espírito já foi bem apoiada biblicamente, a atenção agora volta para a base bíblica do seu papel na salvação (recriar e aperfeiçoar).
Mesmo antes de as pessoas crerem no evangelho, o Espírito Santo está trabalhando para convencer “o mundo [pessoas hostis a Deus] do pecado, da justiça e do juízo” (Jo 16.8).
Isto é, o Espírito expõe seu fracasso para crer em Cristo como única esperança de salvação (Jo 16.9). Além disso, ele revela a inutilidade da justiça própria para merecer o favor de Deus (Jo 16.10).
Mais ainda, o Espírito desmascara o julgamento mundano pelo qual os incrédulos procuram justificar-se ao se compararem favoravelmente com os que são “mais pecadores” (Jo 16.11; veja tb., p. ex., Lc 18.9-14).
Pela convicção de pecado, o Espírito faz com que os incrédulos sintam sua culpa e vergonha, preparando-os para a única esperança de resgate.
Essa esperança é a aplicação dos poderosos atos de Deus na salvação. Regeneração é a remoção da velha natureza pecaminosa e a implantação de uma nova natureza.
Esse novo nascimento vem pelo Espírito Santo (Jo 3.3- 8; Tt 3.5-7). Quanto à resposta humana à atividade do Espírito, a conversão é motivada pelo Espírito.
Na verdade, “ninguém pode dizer: ‘Jesus é Senhor!’, a não ser no Espírito Santo” (1Co 12.3). Como o Espírito suscita a fé, ocorre o poderoso ato divino de justificação, que vem por meio da fé.
De fato, “fostes justificados em nome do Senhor Jesus Cristo e pelo Espírito do nosso Deus” (1Co 6.11; cf. Tt 3.5-7).
A Obra do Espírito Santo no Batismo dos Crentes
Outra poderosa obra de salvação, esta iniciada por Cristo, é o batismo de novos crentes com o Espírito Santo para juntá-los ao corpo de Cristo (1Co 12.13; Jo 1.33).
Esse Espírito divino sela esses crentes, garantindo sua salvação (Ef 1.14; 4.30). Além disso, ele lhes concede, pelo seu testemunho interior, a certeza da salvação (Rm 8.16; 1Jo 4.13).
Ele é também “o Espírito de adoção” (Rm 8.15), pelo qual os crentes são trazidos para a nova família daquele a quem clamam: “Aba! Pai!” (Gl 4.4-6).
À igreja, o Espírito Santo concede unidade (Ef 4.3), líderes (At 20.28), poder de atrair os incrédulos com o evangelho (At 1.8) e dons espirituais (1Co 12—14; tratados no próximo capítulo, “Os dons do Espírito Santo”).
À medida que são continuamente enchidos com o Espírito Santo (Ef 5.18- 21), os cristãos são guiados por ele para atender a todos os requisitos morais de Deus (Rm 8.1-8).
Aliás, andar no Espírito os impede de se entregarem às obras de sua natureza pecaminosa, produzindo, em vez disso, o fruto da semelhança de Cristo em sua vida (Gl 5.16-25).
A Santificação
Essa santificação, atribuída ao Espírito Santo (1Pe 1.2), é um movimento progressivo da pecaminosidade para a santidade (2Co 3.18).
E ela é alimentada pela Escritura — sendo os crentes ajudados pela iluminação do Espírito (1Co 2.10-16) — e pela oração, que também recebe o auxílio do Espírito (Rm 8.26,27).
No final dessa peregrinação, quando Cristo retornar, está a glorificação, em que a ressurreição do corpo é obra do Espírito (8.11).
Essa é, portanto, a obra específica do Deus triúno de recriação e aperfeiçoamento, e é particularmente associada ao Espírito Santo.
Principais erros
1. A negação ou apatia em relação ao trabalho contínuo do Espírito Santo em seus muitos ministérios.
Essa perspectiva não compreende que a salvação, a santificação, o entendimento das Escrituras, a superação da tentação, a garantia da salvação e muito mais dependem da obra do Espírito.
2. Uma excessiva atenção ao Espírito Santo, que leva a ignorar ou negligenciar o Pai e o Filho, a Escritura, a necessidade de uma fé cuidadosa, a sabedoria dos outros e muito mais.
Essa posição deixa de lado muitos dos elementos essenciais para o cristianismo robusto, por ter um foco muito estreito no Espírito.
Para que você possa se aprofundar e continuar seus estudos, leia o nosso próximo artigo, para você ter uma visão mais acurada do assunto indico o livro “50 Verdades centrais da fé Cristã” de Gregg R. Allison que deu origem a este artigo. Deus abençoe, até o próximo texto.
