Teologia Sistemática
Os Ofícios do Filho de Deus
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Os ofícios do Filho de Deus são sua tríplice obra de salvação como Profeta, Sacerdote e Rei. O termo técnico para essa doutrina é munus triplex, a tríplice função de Cristo.
Deus estabeleceu três ofícios em Israel: profeta, sacerdote e rei. Desempenhados por diferentes pessoas, esses três ofícios caracterizavam três tipos de trabalho diferentes.
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O Antigo Testamento previa a vinda daquele que seria Profeta, Sacerdote e Rei, unificando os três ofícios. O Filho de Deus realiza essa expectativa do Antigo Testamento. Como Profeta, ele revela Deus e seus caminhos.
Como Sacerdote, ele é o mediador entre Deus e seu povo. Como Rei, ele governa toda a criação, incluindo a humanidade.
Entendendo a Doutrina
Em geral, as pessoas veem a obra salvadora de Jesus Cristo em referência a seu sacrifício na cruz e sua ressurreição.
Embora esses fossem certamente os focos de sua missão, a obra de Cristo não pode ser limitada a eles. O munus triplex, ou tríplice ofício de Cristo, ressalta a natureza multifacetada de sua obra de salvação.
Deus estabeleceu três ofícios em Israel: profeta, sacerdote e rei. Eram ofícios distintos, exercidos por pessoas diferentes, e caracterizavam diferentes papéis.
Ao falarem as palavras de Deus por meio do Espírito Santo, os profetas entregavam revelação divina, fazendo com que Deus e seus caminhos fossem conhecidos por seu povo.
Como mediadores entre Deus e seu povo, os sacerdotes ofereciam sacrifícios para expiar os pecados do povo e intercediam por eles diante de Deus.
Como representantes de Deus, os reis governavam o povo de Deus. Os três papéis distintos de profeta, sacerdote e rei eram desempenhados por três tipos de pessoas diferentes.
É importante notar que o Antigo Testamento profetizou a vinda de Alguém que desempenharia os três ofícios juntos.
Ele seria Profeta, Sacerdote e Rei, desenvolvendo o trabalho de todos os três ofícios. O Filho de Deus cumpriu essa profecia. Unificando os três ofícios e fazendo o trabalho dos três, Jesus é Profeta, Sacerdote e Rei.
Base bíblica
As informações do Antigo Testamento são extensas. O ofício de profeta é mencionado em Isaías, em Jeremias e nos outros profetas (2Pe 1.19-21).
Mensagens proféticas expuseram a pecaminosidade do povo de Deus (Is 1), retrataram o julgamento futuro (Is 3), revelaram uma direção específica (Is 6.8-13), anunciaram a vinda do Messias (Is 9.1-7) e muito mais.
O ofício de sacerdote é mais claramente associado ao sumo sacerdote, que uma vez por ano, no Dia da Expiação, ofereceria sacrifícios para perdão dos pecados do povo (Lv 16).
Havia muitos outros sacerdotes que também ofereciam sacrifícios pelos pecados. Esses sacrifícios, embora prescritos por Deus, não podiam salvar aqueles por quem eram oferecidos.
Em vez disso, “nesses sacrifícios há lembrança dos pecados a cada ano. Pois é impossível que o sangue de touros e de bodes retire pecados” (Hb 10.3,4; cf. v. 11).
Outra responsabilidade sacerdotal era a oferta de orações em favor do povo de Deus. Em particular, as orações sacerdotais eram bênçãos em nome do Senhor (Nm 6.24-26; Dt 21.5; 1Cr 23.13).
O ofício de rei começou com Saul, continuou com Davi e Salomão e, depois se dividiu entre dois reinos. Antes de sua inauguração, no entanto, Deus havia feito preparativos para providenciar um rei para seu povo.
A principal responsabilidade do rei era copiar, ler diariamente e obedecer às Escrituras (Dt 17.14-20). Nenhum dos reis de Israel conseguiu corresponder a essas expectativas.
O Testemunho do Antigo Testamento
O Antigo Testamento previu a vinda de Alguém que seria profeta, sacerdote e rei, unificando os três ofícios.
Moisés profetizou a vinda de um futuro profeta como ele: “O SENHOR, TEU DEUS, LEVANTARá para ti um profeta semelhante a mim […]
Então o SENHOR me disse: […] eu lhe porei na boca as minhas palavras, e ele lhes falará tudo o que eu lhe ordenar” (Dt 18.15- 18).
O Antigo Testamento também sugeria a vinda de um sacerdote diferente dos que o antecederam: “E levantarei para mim um sacerdote fiel, que fará segundo o que está no meu coração e na minha mente” (1Sm 2.35).
Aquele que viria seria rei — sentado à direita do Senhor, dominando seus inimigos (Sl 110.1,2) — e “sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedeque” (Sl 110.4).
O Antigo Testamento apresentava a expectativa de um Rei “Davídico”, da linhagem de Davi, de Salomão e dos reis que os seguiram.
Seu reino seria eterno. Significativamente, ele seria um filho fiel de Deus (2Sm 7; Sl 89.28- 35).
Outras profecias o apresentaram como “um Renovo justo” de Davi (Jr 23.5,6; cf. 30.9), cujo local de nascimento seria humilde (Mq 5.2) e cuja entrada em Jerusalém seria triunfante (Zc 9.9).
O Novo Testamento afirma que Jesus é Aquele que haveria de vir
Ele era profeta, reconhecido como tal por pessoas como a mulher samaritana (Jo 4.19) e o cego (Jo 9.17).
De fato, havia uma vaga impressão de que Jesus era “algum dos profetas” (Mt 16.14). Citando Deuteronômio 18.15, Pedro identificou Jesus como o esperado profeta semelhante a Moisés (At 3.22- 24).
Assim como os profetas antigos, Jesus falava ao povo as palavras de Deus: “Ouvistes que foi dito […] Eu, porém, vos digo…” (Mt 5.21,22,27,28,31- 34,38,39,43,44).
Assim, ele se estabeleceu como o intérprete abalizado da revelação do Antigo Testamento e aquele que transmitia a nova revelação.
Como foco principal de seu ministério, Jesus pregou o evangelho (Mt 4.17,23; Mc 1.15-17; Lc 4.43).
Além de revelar as palavras de Deus, Jesus, como Profeta, revelou as obras de Deus: “As obras que o Pai me concedeu realizar [são] as mesmas obras que realizo” (Jo 5.36). As obras de Jesus revelaram as obras do Pai.
Além da revelação das palavras de Deus e das obras de Deus, Jesus, como profeta, revelou o próprio Deus.
Ao seu amigo Filipe, Jesus explicou:
“Quem vê a mim vê o Pai” (Jo 14.9). De fato, o Filho encarnado é “a representação exata da sua [de Deus] natureza” (Hb 1.3).
Assim, Jesus é profeta, falando as palavras de Deus, manifestando as obras de Deus e, por ser o próprio Deus, revelando Deus ao seu povo.
O Novo Testamento apresenta Jesus como Sacerdote. Ele é “sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedeque” (Hb 5.6; 6.20; 7.3,17,21), em cumprimento da profecia (Sl 110.4).
Em particular, Jesus é o Sumo Sacerdote, embora significativamente diferente dos sumos sacerdotes que o precederam.
Um dos principais pontos que o faziam diferente dos outros era a sua impecabilidade
Como Sumo Sacerdote, ele era “santo, inocente, imaculado, separado dos pecadores […]. Não precisava oferecer sacrifícios a cada dia, como aqueles sumos sacerdotes, primeiramente por seus próprios pecados e depois pelos do povo” (Hb 7.26,27).
Uma segunda diferença é a natureza de sua oferta. “Mas Cristo, vindo como sumo sacerdote […], entrou de uma vez por todas no Lugar Santíssimo, não por meio do sangue de bodes e novilhos, mas por seu próprio sangue” (Hb 9.11,12).
Excepcionalmente, como o sacrificador, ele sacrificou a si mesmo. Terceiro, Cristo e seu sacrifício único na cruz contrastam com os sacerdotes e seus repetitivos sacrifícios:
“Mas, ao oferecer de uma só vez um único sacrifício pelos pecados, Cristo se assentou à direita de Deus” (Hb 10.12-14).
Jesus também foi um Sacerdote que orou pelo povo de Deus
Sua Oração Sacerdotal é um exemplo (Jo 17). Jesus, o eterno Sumo Sacerdote, continua exercendo seu ministério de oração (Hb 7.24,25; cf. Rm 8.34).
Em sua Oração Sacerdotal, Jesus também abençoa seu povo, particularmente os pobres de espírito, os humildes, os misericordiosos e outros (Mt 5.1-12).
Assim, Jesus é Sacerdote, oferecendo o sacrifício supremo e orando pelo povo de Deus.
O Novo Testamento afirma Jesus como Rei.
Herodes temia que o recém- nascido Jesus fosse “rei dos judeus” (Mt 2.1-8), nascido em Belém de acordo com a profecia de Miqueias (Mt 2.5,6; Mq 5.2).
A entrada triunfal de Jesus como Rei também foi cumprimento de profecia (Mt 21.1-11; Zc 9.9). Na morte de Jesus, a acusação contra ele foi: “Este é Jesus, o Rei dos Judeus” (Mt 27.37).
Além disso, Jesus era o Rei “Davídico”, cuja vinda já era esperada havia muito tempo. Ele era o filho de Davi (Mt 1.1; 9.27; Jo 7.42; At 13.22,23). Ele era o Filho de Deus (Mc 1.1; Lc 3.38; Mt 16.16).
O Novo Testamento junta essas duas identidades (Lc 1.32,35; At 13.22,23,33; Rm 1.3,4).
O governo régio de Jesus está especialmente associado à sua exaltada posição celestial.
Como líder cósmico, Cristo é rei sobre toda a criação em geral e sobre a igreja em particular (Ef 1.19-23).
Em seu retorno, o Cordeiro conquistador aparecerá em glória como “Senhor dos senhores e Rei dos reis” (Ap 17.14).
Assim, Jesus é Rei, governando toda a criação e particularmente o povo de Deus.
Principais erros
1. Uma completa omissão do tríplice ofício. Embora não seja uma doutrina principal ou mesmo o ponto central do evangelho (que é a morte e ressurreição de Cristo), ela tem forte apoio bíblico e merece ser estudada.
2. Confundi-la com a forma pela qual outras religiões veem a Cristo. Por exemplo, os muçulmanos afirmam que Jesus é um grande profeta. Mas a doutrina cristã de Cristo como Profeta está muito distante da concepção islâmica e não deve ser confundida com ela.
3. A ideia de que essa doutrina diminui a divindade de Cristo. Como os profetas, os sacerdotes e os reis eram seres humanos, afirmar que Cristo é Profeta, Sacerdote e régioi pode parecer enfatizar a sua obra como ser humano a ponto de ofuscar sua divindade.
Mas essa doutrina não pretende esgotar a discussão sobre Cristo. Em vez disso, ela se concentra em alguns aspectos de sua obra, que ele realizou, não como um mero ser humano, mas como o Deus-homem.
Para que você possa se aprofundar e continuar seus estudos, leia o nosso próximo artigo, para você ter uma visão mais acurada do assunto indico o livro “50 Verdades centrais da fé Cristã” de Gregg R. Allison que deu origem a este artigo. Deus abençoe, até o próximo texto.
